TrĂȘs hospitais de Salvador registram infecções por bactĂ©ria super-resistente

Casos foram identificados em pacientes entre janeiro e março deste ano; entenda os riscos

Por A Voz da Região em 11/05/2022 às 08:39:13
Enterococcus é a bactéria super-resistente encontrada em hospitais de Salvador (Divulgação)

Enterococcus é a bactéria super-resistente encontrada em hospitais de Salvador (Divulgação)

Entre janeiro e março deste ano, casos de pacientes infectados por bactérias super-resistentes foram registrados em trĂȘs hospitais de Salvador. Em abril, a Secretaria da SaĂșde do Estado da Bahia (Sesab), emitiu nota técnica com o alerta para o risco de disseminação do microrganismo enterococcus (na imagem abaixo), que é resistente ao antibiótico vancomicina, em unidades hospitalares. A secretaria não informa quantas pessoas foram infectadas no total e nem quais foram os hospitais. Também não hĂĄ informações sobre pacientes infectados com enterococcus resistente fora da capital.

O conhecido alerta feito por médicos frequentemente para que as pessoas evitem tomar antibióticos sem necessidade porque isso pode ajudar no desenvolvimento de super bactérias é justamente o que explica a cepa de enterococcus resistente à vancomicina. As bactérias são capazes de burlar a eficĂĄcia do antibiótico, o que implica na diminuição de opções de medicamentos para tratar infecções graves.

Em 2019, quatro unidades hospitalares também registraram infecções deste tipo em Salvador. A Sesab, no entanto, não informa quantos pacientes foram atingidos na época e nem quais foram as unidades de saĂșde. Infecções desse tipo não costumam acometer pessoas saudĂĄveis e sim as que jĂĄ estão internadas, de acordo com o infectologista FĂĄbio Amorim.

Este tipo de bactéria tem grande potencial de disseminação em unidades de saĂșde porque apresenta resistĂȘncia a remédios que tratam doenças causadas por micróbios em geral, como explica o infectologista Antônio Bandeira. "Essa resistĂȘncia ao antibiótico aponta que a bactéria é frequentemente resistente a muitos antibióticos e esse [vancomicina] é um dos principais usados no tratamento. Além disso, o gene pode ser rapidamente transmitido para outras bactérias, o que pode gerar um surto em unidades hospitalares", diz o médico.

Intubação
O risco é maior para pacientes internados e com acessos [como cateteres para colocação de soro ou medicamento intravenoso] ou intubados. "Todo paciente dentro do hospital jĂĄ estĂĄ enfraquecido. Se essa bactéria ainda causar infecção hospitalar, como frequentemente causa, vai debilitar ainda mais quem jĂĄ estĂĄ fragilizado", destaca Antônio Bandeira.

A enterococcus pode ser responsĂĄvel por infecções em diversas partes do corpo, tais como endocardite (que acomete as vĂĄlvulas do coração), trato urinĂĄrio e abdômen. Por isso, são consideradas bactérias "oportunistas". "Muitas vezes, a infecção se associa à colonização dos cateteres por bactérias, então pode haver uma infecção pela corrente sanguĂ­nea ou elas podem colonizar o cateter urinĂĄrio e a pessoa ter uma infecção urinĂĄria grave", diz Bandeira.

Caso a infecção ocorra através do sangue, o quadro pode se agravar para sepse. Isso significa que a bactéria invade diversas partes do corpo, transportada pela corrente sanguĂ­nea. O infectologista FĂĄbio Amorim ressalta que como o microorganismo é resistente ao seu principal tipo de tratamento, o antibiótico vancomicina, as opções ficam reduzidas.

"O risco é pelo fato do paciente estar infectado com um agente patogĂȘnico que pode levar a infecção nos mais diversos sĂ­tios, como pele, pulmão, coração, rins e ossos e ainda ter restrição nas opções terapĂȘuticas", explica o médico.

Outras opções de antibiótico que podem ser utilizados em caso de resistĂȘncia à vancomicina são a daptomicina e a linezolida. Sendo que uma caixa do Ășltimo, com 28 comprimidos, pode chegar a custar R$ 6.700, de acordo com a plataforma Farmaindex. O site realiza pesquisas e compara diversos tipos de medicações e foi criado em março de 2020.

Cuidados

Os micro-organismos multirresistentes do tipo enterococcus foram considerados como alta prioridade para vigilância pela Organização Mundial da SaĂșde (OMS) em 2017. Por isso, o alerta de infecções deste tipo é importante para que hospitais e unidades de saĂșde tomem medidas para evitar surtos.

Entre as medidas indicadas pela Sesab estão: o isolamento do paciente infectado em quarto privativo, implementação de procedimentos padronizados de limpeza e desinfecção, manter equipamentos de uso exclusivo para pessoas infectadas e a realização de cultura de vigilância ativa para investigar possĂ­veis surtos. A desinfecção de superfĂ­cies é importante porque os enterococcus podem sobreviver nesses locais por longos perĂ­odos.

Para pessoas saudĂĄveis visitem internados, o infectologista Antônio Bandeira afirma que não existem critérios de proteção definidos. "Para as pessoas em nĂ­vel individual, não hĂĄ muita recomendação. Na verdade, é algo mais referente à gestão hospitalar", afirma.

Apesar disso, a Sesab recomenda a lavagem correta das mãos sempre que possĂ­vel.

Pandemia pode ter contribuĂ­do para cepas mais resistentes

Longas internações causadas pela covid-19 durante a pandemia podem ter favorecido o desenvolvimento de resistĂȘncia das bactérias aos antibióticos, explica uma nota técnica da Sesab. Muitos pacientes que tiveram a infecção do novo coronavĂ­rus precisaram ser internados em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) e utilizaram dispositivos invasivos como intubação, ventilação mecânica e cateteres.

"Todos esses procedimentos propiciaram infecções bacterianas e o uso intensivo de antibióticos, o que pode ter favorecido a emergĂȘncia desse tipo de cepa", explica o médico Antônio Bandeira. Além disso, a Sesab pontua que as "dificuldades para a implementação de medidas de prevenção e controle de infecções" nas unidades de saĂșde do estado podem ter contribuĂ­do para a aparição dos casos.

"A pandemia criou condições que favorecem a disseminação de microrganismos resistentes aos antimicrobianos nos serviços de saĂșde: aumento no nĂșmero e no tempo de hospitalização dos pacientes com covid-19; pacientes graves com uso prolongado de dispositivos invasivos e assistĂȘncia intensiva; redução do nĂșmero de profissionais de saĂșde e aumento da carga de trabalho", enumera a nota técnica.




Fonte: A Voz da Região / correio24horas.com.br

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