Grandes atrações e dois dias de festa, com público de até 20 mil pessoas: essa era a realidade do Forró do Bosque, realizado em Cruz das Almas desde os anos 2000. No entanto, para o São João de 2023 a história será interrompida.
No ano passado, com nomes como João Gomes, Bell Marques e Léo Santana, a festa recebeu 10 mil pessoas em seu único dia; número alto, mas não o suficiente para cobrir os gastos, de acordo com Antônio Ribeiro Dólar, produtor do Bosque. Este ano, a produção decidiu dar uma pausa na realização do evento.
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O Forró do Bosque não é a única festa fechada junina a enfrentar dificuldades. Até o momento, pelo menos mais três grandes eventos tradicionais não vão acontecer em 2023: o Forró do Piu Piu, em Amargosa, o Forró do Lago, em Santo Antônio de Jesus, e o Forró da Amizade, que seria realizado em Salvador, anunciaram a interrupção. O mais recente a divulgar o cancelamento foi o Forró do Piu Piu, que acontece na cidade de Amargosa desde 1996, cuja suspensão foi compartilhada com o público nesta quarta-feira (24).
Já o cancelamento do Forró do Lago, festa promovida pelo cantor Bell Marques em Santo Antônio de Jesus, deu espaço à realização de outra festa privada na cidade, que terá nomes como Henrique e Juliano e Nattan. O Forró do Lago, que nasceu em Cabaceiras do Paraguaçu, na fazenda de Bell, passou a acontecer em Santo Antônio de Jesus em 2015, tornando-se rapidamente parte da tradição junina da cidade.
O preço das festas particulares é um fator essencial para a queda desses eventos. Para o produtor Antônio Ribeiro Dólar, os principais motivos para as suspensões são os preços inflados após a pandemia e a disputa das festas privadas com as comemorações promovidas pelas prefeituras, que trazem grandes atrações de formas gratuitas para o público. "O que dificulta é a relação das festas privadas com o órgão público. Não tem condição nenhuma de você fazer uma festa com grandes atrações se a prefeitura local não estiver de braço dado com você para tentar encaixar [as comemorações]", afirma.
Procuradas, as prefeituras de Santo Antônio de Jesus e Cruz das Almas não responderam até o fechamento desta reportagem. Já a prefeitura de Amargosa declarou que não falaria sobre o assunto. A produtora do Forró do Piu Piu, também procurada, não respondeu aos questionamentos.
Ainda de acordo com o produtor, o preço da diária dos equipamentos e do cachê para contratar grandes artistas praticamente dobrou desde 2019, última edição antes da pandemia. Ele conta que o valor do gerador, por exemplo, costumava ser de R$ 1,8 mil por dia há três anos, e hoje sai por R$ 3,5 mil. Na festa, são utilizados cinco geradores. Além disso, o cachê de um artista notável, que em 2019 o forró conseguiu por R$ 200 mil, aumentou, em 2023, para R$ 400 mil.
Maria Laura Lopes, 18, é natural de Santo Antônio de Jesus, mas atualmente vive em Salvador. Na cidade só em ocasiões especiais, ela prefere aproveitar os dias de São João em camarotes privados das festas gratuitas. "Acredito que o evento veio se desgastando ao longo do tempo e a cada ano que passava ia pecando em algo. Ano passado minhas irmãs foram e reclamaram muito da organização, da falta de cerveja no open bar, por exemplo", afirma. "É uma festa tradicional em Santo Antônio, mas que veio decaindo em alguns pontos".
Uma das hospedarias tradicionais de Santo Antônio de Jesus, a Pousada Dedé sempre lota durante as festas juninas: segundo seus representantes, todo ano são cerca de 55 hóspedes em junho. Apesar da falta do Forró do Lago, a expectativa continua alta. "No mês de junho tem um bom movimento. Acredito que [o número não vai cair], logo que terá outra festa no lugar, e atrações boas na festa aberta", disse em nota.
*Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo