Os preços dos ovos alcançaram nível recorde nos mercados ao redor do mundo, com destaque para o último trimestre de 2022, segundo novo relatório do Rabobank. Fatores como alto custo de produção, consequências da Covid-19 e aumento dos casos de influenza aviária fizeram os preços disparar.
Entre o primeiro trimestre de 2022 e o mesmo período de 2023, os preços nos Estados Unidos e União Europeia cresceram 155% e 62%, respectivamente, enquanto no Japão registrou o maior preço desde 2003.
Mais de 70% do custo de produção de ovos é composto por milho e farelo de soja, utilizados como ração. De criadouros à agroindústria de processamento, o aumento nos preços da matéria-prima impacta significativamente toda a cadeia de produção e alimentação. Neste sentido, o Rabobank aponta que os preços globais de ovos aumentaram entre 50% e 100%, de 2020 a 2022.
Quando os preços de alimentos aumentaram em 2021 – cenário agravado em 2022 pela guerra da Rússia com a Ucrânia –, os ovos acompanharam o movimento. No entanto, mesmo com preços encolhendo para alimentos em geral, os ovos continuaram encarecendo. Até agora, mercados como China e Índia foram menos impactados, com preços acima do normal entre 15% e 20%.
De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), entre fevereiro de 2022 e fevereiro de 2023, o preço de venda no atacado da caixa com 30 dúzias de ovos brancos subiu 28,6%, para R$ 174,89. A caixa com 30 dúzias de ovos vermelhos ficou 26,9% mais cara, chegando a R$ 198,82.
Custos de produção
Custos de alimentação estão diretamente ligados aos preços de grãos e combustíveis, que representam entre 60% e 70% do custo do produtor. Consequentemente, qualquer mudança nas despesas da cadeia produtiva impacta o preço dos ovos.
Do meio de 2020 para o segundo semestre de 2022, os custos de produção praticamente dobraram em muitos mercados, como de insumos e defensivos, e produtores apertados precisaram repassar este valor para os consumidores.
Entre abril e junho de 2022, houve incertezas particularmente devido à guerra, trazendo preocupações sobre o abastecimento de comida e o preço da energia. Em resposta, muitos criadores preferiram não arriscar e deixaram de investir na ampliação do aviário e na criação de galinhas. Em locais de menor escala, produtores deixaram a indústria por não suportar os altos custos, como ração e energia para as granjas.
Influenza aviária
O aumento de casos de influenza aviária tem crescido nos últimos dois anos, devido à agressividade do vírus H5N1 na Ásia, Europa e depois nas Américas. Nos Estados Unidos, mais de 40 milhões de galinhas poedeiras foram sacrificadas entre 2022 e o começo de 2023, com 60% a mais que as ocorrências em 2022.
Ainda que os casos nos aviários estejam significativamente menores em 2023, e haja repovoamento dos criadouros, a população de galinhas e a produção de ovos estão inferiores a 2021.
Nos Estados Unidos, o cenário levou a um declínio de 9% na disponibilidade no mês de março. Na União Europeia, a estimativa é que a influenza aviária levou a uma queda populacional de 5%. O Japão reportou o abate de mais de 17 milhões de galinhas, enquanto na África do Sul foram abatidos 2,8 milhões de animais, redução de 10% na população do país.
Em países emergentes, especialmente na América do Sul, a influenza aviária tem se espalhado rápido. A preocupação, segundo o relatório do Rabobank, é que estes países não possuem um sistema de apoio que compense financeiramente produções que sejam atingidas pelo vírus. Isso pode causar riscos no curto prazo, relacionados à dificuldade de reportar os casos, e no longo prazo o risco é de redução na capacidade dos criadouros.
Na maioria dos casos, a produção de galinhas está concentrada perto de grandes cidades como Lima, Guadalajara e São Paulo. "Se estas áreas produtivas forem afetadas, pode haver um impacto ainda maior nos mercados locais", alerta o texto.
Reflexos da Covid-19
Embora a pandemia de Covid-19 tenha arrefecido, as consequências ainda são vividas na indústria dos ovos. De 2020 a 2022, as restrições de mobilidade fizeram o consumo fora dos lares cair, o que reduziu a atuação do segmento.
Nos Estados Unidos, por exemplo, os cafés-da-manhã representam a maior parte das vendas da indústria de ovos. No Canadá, a redução foi de 30% no consumo fora do lar e até agora a recuperação do setor não atingiu os níveis pré-pandemia.
Os desdobramentos da pandemia recaem para toda a cadeia, da distribuição dos ovos até a produção no campo. Mesmo com a maioria dos países recuperando o ritmo de consumo, o tempo de produção dos ovos é relativamente devagar, podendo levar mais de um ano para reequilibrar o crescimento da demanda com o ciclo da indústria.
A Voz da Região / Biz News