Brasil revoluciona a epidemiologia nutricional; saiba como

Por A Voz da Região em 21/07/2022 às 12:08:18
O senso de pandemia é mais perceptível no campo das doenças infecciosas do que com relação aos acometimentos crônicos e não transmissíveis. No Brasil, pesquisas fizeram com que a percepção desses problemas de saúde fossem encarados de outra maneira pela comunidade científica mundial.

No início dos anos 2000, o número crescente de pessoas com doenças crônicas intrigava o médico Carlos Monteiro, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. O avanço das silenciosas pandemias de diabetes e hipertensão não batia com os dados de compras de alimentos: à época, os brasileiros reduziam a aquisição de itens como açúcar, sal e óleo de soja.

Outros itens, no entanto, passavam a ganhar espaço nos carrinhos de supermercado. Em geral, eram alimentos prontos para consumo, como biscoitos recheados, macarrão instantâneo e lasanhas congeladas.

"As pessoas estavam deixando de cozinhar. Trocavam refeições feitas em casa por opções que já chegavam prontas ou semiprontas", diz Monteiro. "Isso estava relacionado ao aumento da prevalência de doenças crônicas, e a minha hipótese era que o problema estava no processamento de alimentos feito pela indústria."

Em 2019, por conta dessa sacada do cientista, foi criada uma classificação de alimentos, nomeada por ele de Nova. Ela define quatro grupos de alimentos: in natura ou minimamente processados (como frutas, verduras, carnes e grãos), ingredientes culinários (óleo, açúcar), alimentos processados (produtos que mesclam as duas primeiras categorias, como uma geleia de morango, que une a fruta e açúcar) e alimentos ultraprocessados. Estes são definidos como formulações industriais que usam parte de alimentos in natura (o amido do milho, a gordura vegetal) e que, em geral, dependem de corantes, edulcorantes e aromatizantes para ter gosto e cheiro de alguma coisa.

O lançamento da Nova fez com que a epidemiologia nutricional passasse a olhar para os ultraprocessados. De lá para cá, pipocaram artigos científicos sobre o tema em todas as regiões do planeta. Em comum, os trabalhos apontam associações entre o consumo desses alimentos e uma chance maior de ter desfechos negativos de saúde, como o desenvolvimento de obesidade, diabetes, câncer e até depressão. As informações são do Instituto Serrapilheira e do blog Ciência Fundamental.

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