Tomar o café da manhã está cada vez mais caro. A principal refeição do brasileiro teve um aumento de 26,15% entre junho de 2021 e junho de 2022, enquanto a inflação registrada no período foi de 11,89%, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), divulgado nesta sexta-feira (8) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Para o cálculo, foi considerada uma refeição matinal completa, com café, leite, pão francês, manteiga, bolo, pão doce, iogurte, pão de queijo, biscoito, pão de forma, queijo e requeijão. Só o preço do café moído subiu 61,83% nos últimos 12 meses, cinco vezes mais que a inflação no mesmo período. O pão de forma teve aumento de 21,72%, e o pão francês, de 16,61%. A variação mensal e a dos últimos 12 meses dos itens do café da manhã estão na tabela a seguir:
"Os itens do café da manhã, juntos, tiveram uma alta maior que o dobro da inflação média", avalia o economista Andre Braz, do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas), responsável pela análise. Para ele, o grande vilão do ano foi o café. "Ele subiu muito porque, no ano passado, ocorreram geadas no inverno, em julho, o que provocou grandes perdas nos cafezais, principalmente em Minas Gerais, que é o maior produtor do Brasil", explica.
Entretanto, o economista afirma que o preço do café tende a diminuir: "Como o ciclo de produção é bianual, leva dois anos para o processo se normalizar, então, estamos vivendo essa carestia em função disso. Mas, a próxima safra já promete ser melhor, e o preço deve começar a se normalizar."
Braz também destaca o custo do trigo, que elevou os preços do pão de forma, do pão francês e dos demais produtos feitos com farinha. "Esses produtos subiram bastante, a maioria mais do que a inflação do mês e mais do que a acumulada. O trigo é uma das commodities que foi prejudicada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, que são os maiores produtores mundiais. Os embargos aos dois países estão fazendo os grãos escassear", diz.
Fábio Pizzamiglio, diretor da empresa Efficienza, especializada em negócios internacionais, fala que a alta dos alimentos matinais, principalmente dos derivados de trigo, também está relacionada a dificuldades atuais do comércio exterior, causadas especialmente pela guerra na Ucrânia. "O valor dos contêineres continua elevado, há impedimentos para o escoamento da produção agrícola nas regiões em conflito, e ainda buscamos soluções para a crise dos fertilizantes. Por mais que a importação tenha aumentado, os valores estão elevados", afirma.
"Temos que considerar, ainda, que a inflação dos combustíveis também impacta a logística internacional, principalmente no transporte de mercadorias", lembra Pizzamiglio.
Levando em conta a variação dos preços entre maio e junho de 2022, os itens do café da manhã subiram, em média, 3,43%, enquanto a inflação do período foi de 0,67%, um aumento de cinco vezes o valor da inflação. "O leite subiu muito no mês, é o vilão da inflação no mês de junho", diz Braz. "Isso tem a ver com a entressafra, época em que chove pouco, as condições de pastagem pioram, o capim não cresce, e o gado não encontra alimento farto. A consequência é a perda da produção de leite", explica.
O economista conta que a oferta de leite fica temporariamente reduzida e, mesmo os produtores compensando as perdas com rações especiais e outros nutrientes para o gado, eles não conseguem obter o volume produzido no verão, por exemplo. "Dada a lei da oferta e da procura, quanto menor é a oferta, maior o preço. É isso o que está acontecendo com o leite. A boa notícia é que esse efeito é temporário. Logo depois que começar o periodo das chuvas, lá para setembro, o preço do leite volta ao normal, apenas uma parte do aumento que deve ficar, porque o diesel subiu, as rações ficaram mais caras, a mão de obra encareceu. Uma parte desses 10,72% vão ser incorporados à inflação deste ano, mas a maioria disso é gordura relacionada à entressafra", comenta.
A Voz da Região / R7.com