Conheça Guarda Pelé, PM que virou assunto entre rainha, governador e se tornou personagem da cidade

Hoje, com 87 anos, Guarda Pelé acumula boas histórias do tempo de trabalho

Por Emilly Oliveira em 12/12/2023 às 10:12:54

Nem o então governador Antônio Carlos Magalhães, nem a Rainha Elizabeth II escaparam dos efeitos causados pela presença marcante do policial militar Armando Marques da Silva, mais conhecido como o Guarda Pelé, na organização do trânsito do centro de Salvador, quando o então gestor e a monarca passaram juntos pela região, em 1968, durante a visita da rainha a capital baiana.

Conhecido pelo jeito icônico de ordenar o trânsito, Guarda Pelé executava os sinais de comando para os motoristas como se fossem coreografias de dança, e apitava para capturar a atenção deles, em um ritmo semelhante ao de um instrumento musical, revolucionando o trabalho dos guardas a partir do final da década de 60. Talvez, por isso, tenha sido assunto entre as duas autoridades.

"Eu vi aquela multidão, aquele povo, aí ela disse: "aqui na Bahia, todo guarda trabalha assim? [ele respondeu:] "não, é o único"", relembra Guarda Pelé. Além de virar assunto entre a rainha e o governador, Pelé chamou a atenção de produtores que o levaram para realizar diversas apresentações fora do Brasil e comerciais de televisão internacionais, na década de 70. Entre eles, Argentina, Equador, Uruguai e Bolívia.

O guarda de trânsito também se tornou paixão entre as crianças, que ele chamava carinhosamente de Joinha. Mas se engana quem acha que tudo era apenas uma performance. Pelé realmente transformou o trânsito do centro, desafogando o fluxo. Para isso, quebrou diversos padrões disciplinares da Polícia Militar da Bahia (PM-Ba), movido pelo desejo de fazer um trabalho relevante.

Nascido em Salvador, ele se mudou para Ilhéus aos 12 anos e retornou para a capital baiana no início da década de 60, para assumir o posto de policial militar. Como morava próximo de uma unidade policial no centro da cidade, pediu para ser transferido para ela, onde começou a trabalhar organizando o trânsito, alguns anos depois.

Ao se deparar com um centro congestionado, ele começou a pensar em maneiras de melhorar o fluxo, principalmente na Avenida Sete, Rua Chile e Baixa dos Sapateiros. Foi então que ele teve a ideia de intensificar os movimentos para chamar atenção dos motoristas e funcionou. A noite, quando chegava em casa, ensaia os movimentos e colocava em prática na rua.

"Eu ensaiava na frente do espelho, cada virada para esquerda, direita, giros e movimentos de mão. O resultado realmente foi bom, as coisas melhoraram no trânsito e outras pessoas comentavam", conta Guarda Pelé

O apelido não carrega a mesma conotação que o resto da trajetória do Guarda Pelé, mas representa bem o seu atual momento. Segundo ele, o nome foi dado ainda em Ilhéus, porque ele teve muitos casos com mulheres, mas poucos compromissos firmados. Hoje, aos 87 anos, é aposentado e vive no bairro de Pernambués com um dos quatro filhos, mas não é casado.


A história de um policial que atuava como guarda de trânsito ainda é pouco conhecida, mesmo entre os membros da corporação, mas tem gente que deseja que isso seja diferente. Em 2013, o também policial militar, Raimundo Martins publicou um livro sobre a trajetória do Guarda Pelé, chamada 'Guarda Pelé'.

Mais recentemente, em novembro deste ano, o policial da reserva da PM-Ba, Eliezer da Silva Araújo, 55 anos, produziu uma história em quadrinhos sobre o Guarda Pelé, batizado com o nome do personagem. O livro foi produzido como o trabalho dele de conclusão do curso (TCC) de Artes Plásticas, pela Universidade Federal da Bahia (Ufba).

O TCC foi defendido na última semana de novembro e a revistinha está disponível para ser conferida gratuitamente na sede da Escola de Belas Artes da UFBA, na exposição "Tempo". A obra ainda tem apenas um exemplar, mas Eliezer pretende produzir mais, para distribuir gratuitamente entre a corporação e nas escolas públicas de Salvador.

Eliezer e Guarda Pelé
Eliezer e Guarda Pelé. Crédito: Paula Fróes/ CORREIO

"Uma pessoa com uma experiencia tão forte, soldado da Policia Militar, homem negro, com instrução básica, naquela época, conseguiu quebrar normas de trânsito, disciplinares e conseguiu se tornar uma lenda que fez diferença por onde passou", destaca Eliezer.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo

Fonte: Correio

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