Na queda de braço entre elenco e treinador, prevaleceu a força do grupo de jogadores do Botafogo. A diretoria até tentou blindar Bruno Lage e manter o trabalho. Mesmo com a forte cobrança após o comandante barrar Tiquinho Soares, principal referência do time e craque do Brasileirão, a cúpula de futebol do clube iria manter o técnico no cargo. No entanto, a entrada dos líderes do elenco na jogada foi fundamental e Lage não resistiu. Assim, o português não é mais o treinador do Botafogo.
Embora a decisão já tenha sido tomada pela diretoria do clube, a oficialização será feita na reapresentação do elenco na manhã desta quarta-feira. No CT Lonier, Bruno Lage e sua comissão serão notificados da decisão final de John Textor.
Dessa maneira, a tendência é que Lúcio Flávio seja o técnico interino no jogo do próximo domingo, contra o Fluminense.
A decisão da demissão do treinador se justifica em diversos fatores. Entre eles, o principal são as queixas feitas pelos jogadores durante a tarde desta terça-feira. Líderes do elenco se reuniram com John Textor e externaram ao dono da SAF do Botafogo a insatisfação com métodos e escolhas recentes do treinador. O estopim para o grupo foi a opção de Bruno Lage em barrar Tiquinho Soares do time titular depois de comandar treinamentos ao longo de toda a semana com o camisa 9 entre os titulares.
Além disso, pesou também a sequência ruim que o alvinegro enfrenta na temporada. São cinco jogos sem vencer, com quatro derrotas e um empate em casa contra o Goiás no período. Ao todo, Lage esteve no comando do Botafogo por 15 jogos, com quatro vitórias, sete empates e quatro derrotas. Aproveitamento de 42,2%.
A decisão de Bruno Lage de barrar Tiquinho não foi impopular só entre os torcedores. Diversos membros da alta cúpula da SAF do clube, entre eles o americano John Textor, ficaram bem irritados com a escolha do técnico português em deixar no banco de reservas a principal referência da equipe e o craque do Campeonato Brasileiro até o momento.
Por isso, várias reuniões aconteceram entre o fim da noite de segunda-feira e a tarde desta terça. Nelas, Lage foi questionado com severidade por ter sacado a principal referência do time. Por outro lado, a diretoria manifestou, naquele momento, o respaldo ao treinador. Consequentemente, reforçou sua posição de não tomar decisões "de cabeça quente" ou baseadas em um acontecimento isolado.
A situação foi comparada com a experimentada pelo alvinegro em algumas ocasiões pelo ex-técnico Luís Castro, que sofreu pressão externa e até interna no Botafogo. Na ocasião, o clube optou por avaliar o trabalho do treinador num contexto geral e o bancou. Posteriormente, com a ascensão do time à liderança do Brasileirão, a decisão se mostrou acertada.
No caso de Lage, havia o entendimento da cúpula da SAF de que não se pode dar um veredito por conta de uma falha pontual. "Todo mundo tem o direito de errar", disse ao GLOBO uma fonte, ao reforçar que o português foi contratado justamente para tomar decisões e que é preciso apoiá-lo.
Apesar do respaldo dado pelos diretores até aqui, o comandante também foi constantemente questionado internamente por suas decisões. Esse é um processo rotineiro e que conta até com a participação de Textor. O treinador, por sua vez, explica suas escolhas com argumentos baseados no que observa nos treinos.
Havia uma preocupação em dar liberdade ao comandante — assim como ocorreu com Castro e o então interino Cláudio Caçapa, mas também a leitura de que algumas discordâncias devem ser expostas, como no caso de Tiquinho no empate em 1 a 1 com o Goiás. A decisão final da escalação, porém, é sempre do treinador.
Ainda assim, pesou mais a insatisfação dos jogadores do elenco alvinegro.
Fonte: O Globo