Com 20,8 milhões de dúzias de ovos de galinha produzidas entre os meses de abril e junho de 2023, a Bahia registrou a maior produção do alimento nesse período, desde o início da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1987. Os números superam o 2º trimestre de 2022, quando o estado registrou a produção de 20,5 milhões de dúzias.
Produtores de pequeno e grande porte avaliam o crescimento como resultado de investimento no número de aves, expansão de granjas e uso de tecnologia.
A cerca de 190 quilômetros de Salvador, a produtora Edna Souza, 65 anos, viu a produção triplicar no segundo trimestre deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. No segundo trimestre de 2022, a criação caipira na cidade de Serrinha tinha 1.200 aves e produzia, diariamente, 800 ovos. Hoje, com o aumento dos galpões da granja, o número é de aproximadamente 4 mil galinhas, enquanto a produção registra 2.800 ovos por dia. "Esses números podem aumentar, porque estou com um lote em produção. Amanhã, por exemplo, posso estar com uma produção de até 3.200 ovos", explicou.
O Sitio A Roça, nome do empreendimento de Edna, vende diretamente para pequenos mercados e consumidor final, atendendo mais de cinco municípios baianos. Entre eles estão: Serrinha, Santa Luz, Jacobina, Conceição do Coité, São Domingos, Salvador e Lauro de Freitas. "Toda a nossa produção foi vendida neste primeiro semestre, por causa do aumento na demanda. O Brasil chegou a ficar sem ovo, em função da exportação, e essa foi a nossa oportunidade de ganhar mercado, como empreendimento consideravelmente pequeno", disse Souza.
Investimentos
Em Sapeaçu, no interior do estado, a Ovos do Vale também aumentou o plantel (número de aves na granja). Aliada ao uso de tecnologia no empreendimento, o maior número de galinhas nos alojamentos resultou em uma produção maior: um aumento de 40 mil ovos diariamente. No primeiro semestre do ano passado, a granja produziu 180 mil ovos por dia, hoje, soma aproximadamente 220 mil. Para este semestre, a expectativa de Jackson Rodrigues, proprietário do empreendimento, é de que o aumento na produção diária seja de 10 a 15%.
"A maioria das granjas investiu em tecnologia. A consequência disso é o aumento da produção. Estamos em um momento confortável de vendas e valorização do produto e, por isso, quando sobra algum recurso, fazemos investimentos", pontuou. Em 2022, a granja Ovos do Vale tinha 250 mil galinhas. Neste ano, a produção já conta com cerca de 300 mil aves.
No Brasil, a produção de ovos de galinha também registrou um recorde para o período de segundo trimestre, 2,9% acima de 2022, quando o país produziu 1,017 bilhão de dúzias. Entre abril e junho de 2023, a produção brasileira registrou 1,047 bilhão de dúzias, sendo São Paulo o maior produtor de ovos do país, com 26,5% do total nacional no período. Ainda de acordo com o levantamento do IBGE, o estado baiano ocupa o 11º lugar, com 2%.
De acordo com a supervisora de disseminação de informações do IBGE na Bahia Mariana Viveiros, a produção baiana de ovos não é suficiente para atender o mercado estadual. "É uma produção que vem crescendo nos últimos anos, mas não é um destaque nacional, ainda trazemos ovos de outros estados, principalmente das regiões do sul e sudeste", explicou.
Produção x Preço
Apesar do aumento da produção no período, o IBGE indicou uma alta no preço do ovo no primeiro semestre de 2023, em comparação aos primeiros seis meses de 2022. Até julho, o acumulado foi de 28,40%. A confeiteira Priscilla Bagdeve, 35, proprietária do Bolo da Pri (@bolodapri), foi diretamente impactada com essa alta: o empreendimento registrou uma queda de 10% dos lucros.
"Com o aumento do insumo de primeira ordem, o lucro foi reduzido, pois não temos como aplicar um preço mais caro no valor do produto final, já que recentemente atualizamos a tabela de preços", explicou Priscilla, que utiliza, em média, 100 ovos por semana. Ela manteve as mesmas receitas e não reduziu a produção dos confeitados, desembolsando aproximadamente R$ 100 para a compra semanal do insumo. "Como trabalho por encomenda, faço de acordo com a demanda do cliente".
Para tentar amenizar o impacto, a confeiteira intensificou o processo de divulgação de pratos que não levam ovos, como itens produzidos com maior quantidade de frutas, geleias, frios e patês. "Quando falamos de bolo, o nosso carro-chefe, infelizmente não tem como escapar do prejuízo", ressaltou.
Diferente de Priscilla, Janete Sarquis, 56, não viu outra alternativa que não fosse reduzir a produção de refeições, sobremesas e salgados na barraca de lanches que tem na Universidade Federal da Bahia (Ufba), no campus Ondina. Diariamente, ela costumava produzir 25 peças, número que foi reduzido a 13. "Tive uma redução de porcentagem na margem de lucro", disse.
Se houve um aumento na produção, por que o preço do ovo não caiu nesse período? De acordo com o economista Denilson Lima, responsável pela cesta básica da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, dois fatores influenciaram no encarecimento do produto no primeiro semestre deste ano: exportação e preço da carne.
Países como Estados Unidos e Inglaterra apresentaram casos de gripe aviária, responsável por matar mais de 50 milhões de aves. Com a redução da oferta do ovo, o produto ficou mais caro nesses países, o que gerou uma maior participação brasileira no mercado externo. "Como o Brasil começou a exportar mais e a produção interna não conseguia suprir os mercados interno e externo, o preço do produto subiu em território brasileiro", explicou Lima.
O Brasil não conseguia atender os dois mercados porque a movimentação interna também estava aquecida, resultado do encarecimento do preço da carne. "A China, maior compradora de carne brasileira, suspendeu por um momento a compra, por causa de casos da Vaca Louca", disse o economista, salientando que, em agosto, já foi registrado uma queda no preço do ovo, em decorrência do aumento da oferta e da redução do preço da carne no país. No mês passado, o produto registrou uma queda de aproximadamente 14,57%, em relação a julho.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo