Cientistas encontram 30.000 novos vírus escondidos no DNA de micróbios

Cientistas descobriram, por acaso, milhares de vírus desconhecidos escondidos no DNA de micróbios, chegando a ocupar até 10% do código genético de seres unicelulares. Embora pesquisas ainda estejam sendo feitas para determinar a razão de um número tão grande de vírus estar ocupando o genoma microbiano, a suspeita é que eles, na verdade, ajudem o hospedeiro a lutar contra vírus mais nocivos.

Por A VOZ DA REGIÃO em 26/04/2023 às 15:16:07
DC_Studio/Envato

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Essa suspeita vem do fato de que muitos dos agentes infecciosos lembram virófagos, um tipo de vírus que infecta outros patógenos da mesma espécie que tentam infectar seu próprio hospedeiro. Eles também não parecem adoecer as criaturas que infectaram, apesar de chegarem a utilizar seu DNA para replicação e funções básicas para sua sobrevivência.

Mais de 30.000 vírus escondidos foram encontrados em meio ao DNA de seres unicelulares, o que surpreendeu os cientistas (Imagem: iLexx/Envato)

Vírus e a vida na Terra

Apesar da conotação negativa que damos ao seu nome, os vírus estão por todos os lados, sendo a entidade biológica mais abundante no planeta. Todas as formas de vida são infectadas, coletivamente, por esses seres, que conseguem se replicar até mesmo adicionando seu DNA a um hospedeiro e se tornando parte indissociável de seu genoma.

Quando um vírus atinge uma célula germinativa, ou seja, que dá origem a outras células, elementos virais endógenos (EVEs), ou DNA viral, pode acabar passando de uma geração para outra no hospedeiro, o que pode acontecer tanto em fungos quanto plantas e animais, inclusive nós mesmos: cerca de 8% do genoma humano consiste em DNA de antigas infecções virais. Mesmo que já sejam "fósseis genômicos", ou seja, não são mais funcionais, esses elementos ainda estão lá.

Até o momento, a maior parte da pesquisa com EVEs focou em animais e plantas, com poucos olhares direcionados aos protistas, organismos eucariontes diferentes de outras formas de vida, ainda que representem a maior parte da biodiversidade eucarionte do planeta. Na nova pesquisa publicada no periódico científico Microbiology, inclusive, o objetivo inicial era meramente estudar um novo tipo de vírus encontrado na Áustria, mas a curiosidade levou os cientistas para um novo caminho.

Muitos dos vírus encontrados nos micróbios lembravam virófagos, tipo de organismo que se alimenta de outros vírus e pode proteger o hospedeiro de outros invasores (Imagem: Samuel F. Johanns/Pixabay

Vírus versus vírus

Como os pesquisadores não sabiam quais organismos eram infectados pelos agentes infecciosos nas águas do lago Gossenköllesee, na Áustria, eles tiveram de conduzir um estudo de larga escala para testar todos os micróbios com sequências de DNA conhecidas, em um esforço para notar a presença dos novos vírus nos genomas de seres vivos.

Com a ajuda de Leo, um conjunto de computadores de alta performance da Universidade de Innsbruck, foram analisadas grandes quantidades de dados, descobrindo mais de 30.000 vírus embutidos no genoma dos micróbios, o que levou a outra análise sistemática de todos os genomas catalogados de protistas disponíveis à ciência.

Foram encontrados, então, EVEs escondidos em regiões repetitivas e difíceis de se montar do genoma de eucariontes unicelulares. Com milhares de vírus integrados em algumas espécies, o panorama que temos é de que esses seres constituem uma parte significativa e anteriormente não reconhecida do genoma dos protistas.

Feita por acaso, a descoberta ainda poderá revelar muitos segredos sobre as criaturas unicelulares do nosso planeta — e sobre nós mesmos (Imagem: Microgen/Envato)

Os EVEs dos protistas, ao contrário da maioria dos que temos em nossos corpos, parecem ser funcionais e não apenas fósseis genômicos. Como esses micróbios são, costumeiramente, infectados e mortos por vírus gigantes, a presença de virófagos no hospedeiro pode ser muito benéfica: eles podem reprogramar o grande invasor para construir virófagos ao invés de se replicar, o que pode salvar o hospedeiro.

Essa curiosa descoberta continuará nos ajudando, em análises subsequentes, a entender a dinâmica da vida microscópica — e como isso pode ter contribuído para nossa própria biologia.

Fonte: A Voz da Região / Canaltech

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