"A comida como a conhecemos não precisa permanecer do jeito que a conhecemos", explica a startup sobre os seus princípios. Neste ponto, o desenvolvimento de uma suposta carne de mamute entra justamente no contexto de embaralhar e questionar o que pode ser comida ou não. Neste caso, eles provam que o alimento não precisa nem mais existir no planeta para ser consumido. Para além do experimento, a empresa foca realmente no potencial comercial da carne cultivada em laboratório.
Pensando no portfólio comercial, a Vow trabalha com a produção de "carnes" feitas a partir de células de animais, cultivadas em laboratório, mas sem envolver nenhum tipo de sofrimento ou a morte animal. Teoricamente, o mesmo peito de frango que se compra em um açougue vindo de uma granja poderia ser obtido pela empresa. Inclusive, alguns produtos do tipo já são aprovados para o consumo humano nos Estados Unidos.
Na comunidade científica, uma das fortes "modas" é a ideia de ressuscitar animais antigos. O mais emblemático dos casos é a empresa Colossal, que trabalha para reviver os mamutes com algumas adaptações genéticas. Mais recentemente, pesquisadores russos anunciaram que trabalham em uma missão similar, mas o alvo é trazer de volta uma espécie extinta de bisão da Sibéria.
Estes projetos são realmente complexos e devem levar anos para serem concluídos. Diferente dessas iniciativas, a ideia de Vow é bem mais simples, tanto é que foi colocada em prática de forma muito mais rápida. Aqui, vale destacar que a equipe de cientistas não teve acesso a nenhum mamute-lanoso que foi descoberto no Ártico, como eventualmente acontece, nem mesmo aos seus tecidos.
Basicamente, eles se concentram em uma sequência de DNA da mioglobina de mamute, disponível em um banco de dados genômicos público. Pensando na carne de um animal como comida, a proteína mioglobina está presente no tecido muscular e dá sabor, cor e textura à carne.
Como a sequência de DNA não estava completa, parte dela foi preenchida por material genético de um elefante-africano, animal que seria o mais próximo dos mamutes encontrados vivos hoje. Em seguida, esta sequência completa foi inserida em uma célula muscular de uma ovelha (cordeiro) e esta foi cultivada em laboratório, o que permitiu a formação de 400 gramas da chamada carne de mamute.
Posso apostar que se a carne de mamute chegasse aos supermercados, existiria uma fila de potenciais clientes para a compra do produto inusitado. No entanto, essa não é a proposta da empresa e as poucas gramas produzidas já foram enviadas para um museu de ciências na Holanda, o Rijksmuseum Boerhaave.
Inclusive, os responsáveis pelo invento afirmam que nem provaram a sua criação. "Normalmente, provaríamos nossos produtos e brincaríamos com eles. Mas hesitamos em experimentar, porque estamos falando de uma proteína que não existe há cinco mil anos. Não tenho ideia de qual pode ser a alergenicidade potencial dessa proteína em particular", afirma James Ryall, diretor científico da Vow, para a CNN. Ryall também reforça que a almôndega de mamute não será colocada à venda.
Fonte: A Voz da Região / Canaltech de