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Dinheiro Falso

Grupos vendem dinheiro falso em apps de mensagem; baianos compraram R$ 180 mil em 2022

Entre 2020 e 2021, o montante de falsificações aumentou em 7,7% no estado


Ao digitar "notas falsas" no campo de busca do aplicativo Telegram, rapidamente aparecem diversos grupos diferentes de vendas. O mais popular tem mais de 19 mil membros. "Seja bem-vindo. Vendedor de notas justo e correto", diz a biografia. O responsável pelo grupo, que usa um número de celular com DDD 75, área do agreste da Bahia, explica o preço do dinheiro falsificado, que será enviado pelos Correios. O comércio, um crime federal de moeda falsa, é efetivado através do Pix, e as notas, espalhadas pelas cidades. Na Bahia, só até o dia 31 de julho deste ano, foram retirados de circulação R$ 186.840 em cédulas falsas, segundo dados do Banco Central.

Os registros apontam para um total de 1.888 cédulas apreendidas, de R$ 5 a R$ 200. A nota de R$ 100 da segunda família (versão mais nova) foi a preferida dos falsificadores e representou 44% das cédulas falsificadas no estado. Entre 2020 e 2021, o montante de falsificações aumentou em 7,7% no estado. "É só dobrar e passar", diz o vendedor após ser questionado pela Reportagem. "Menos banco, lotéricas e atacadão. Evitar câmeras. Já foi".

A Polícia Federal apreendeu em flagrante, nos últimos três meses, 17 baianos que supostamente compraram cédulas falsas de outros estados e receberam pelos Correios. De acordo com o delegado Wal Goulart, a PF também fiscaliza os grupos do Telegram e Whatsapp, por onde há a maior incidência de vendas. Os Correios também têm parceria com o órgão. "Estamos com outras operações em andamento. A gente faz a coordenação no estado todo da Bahia, temos coordenação com a Polícia Civil e com a Polícia Militar", diz.



Em meados de julho, um homem foi preso em Itapicuru com R$ 1 mil em notas falsas. No início do mês, a PF havia apreendido sete homens de uma quadrilha de falsificação de cédulas de real que agia na Bahia, em São Paulo, no Espírito Santo e no Paraná. Em junho, um homem foi preso em Barreiras com quarenta cédulas falsificadas que somavam R$ 2 mil. O delegado conta ainda que apreensões semelhantes aconteceram em Cruz das Almas, Cachoeira e Irecê. Os suspeitos podem responder pelo crime de moeda falsa, cuja pena varia de 3 a 12 anos de reclusão, e multa.

Mil reais em notas falsas custam R$ 300 no grupo de Telegram mais popular para a venda. Outros, menos conhecidos, vendem por até R$ 200. O valor mais caro de ser adquirido é de R$ 10 mil, que custa R$ 2 mil. Os falsificadores garantem que as cédulas passam pelas etapas de verificação: luz, marca d"água, fita holográfica e caneta. Afirmam ainda que há micro letras, tinta e linha metálica.

Foi assim que o empresário César Soares, 40 anos, teve um prejuízo de R$ 250. Dono de um comércio de rua em Narandiba, Salvador, com vários pontos de venda de quentinhas, César recebeu três notas falsas — duas de R$ 100 e uma de R$ 50. "Essas notas de R$ 100, o rapaz passou uma em um ponto, em seguida foi para outro ponto comprar também. Então ele conseguiu num tempo rápido de um dia, passar duas notas falsas. Só pude perceber na hora que elas [as vendedoras de quentinhas] retornam, porque tive que fazer o fechamento de valores".

De acordo com o comerciante, ele já havia oferecido o treinamento de reconhecimento de notas falsas para as vendedoras, mas mesmo assim elas não conseguiram conferir. Depois do ocorrido, ele comprou uma caneta com luz ultra vermelha para fazer a identificação das notas falsas. "O mais interessante é que essas notas que eu recebi foram confeccionadas em papel moeda, então com o teste simples feito em papel, dá pra passar a nota sem perceber que ela é falsa. Só dá para perceber com a luz ultravioleta", afirma César. Até hoje, ele guarda a falsificação de R$ 50 para dar treinamento às vendedoras.


A delegada Ana Cláudia, que coordena as operações contra falsificações na Bahia, afirma que esse tipo de tráfico aumentou "de forma vertiginosa" desde 2020. "Acredito que pela crise econômica, falta de circulação de dinheiro. Realmente tem um aumento bem considerável. Esses flagrantes estão acontecendo, e quando não conseguimos, instauramos um processo de investigação", afirma. Ana Cláudia ressalta ainda que o governo federal oferece cursos grátis a estabelecimentos comerciais.

O perito da Polícia Federal, Marcus Vinícius, conversou com o CORREIO para explicar como as pessoas podem identificar um dinheiro falso.

"As cédulas de real são o que chamamos de documentos de segurança, possuem características especiais, intrínsecas. Essas características têm três níveis: primeiro são características fáceis de observar, que uma pessoa leiga consegue perceber; segundo nível precisa de treinamento e equipamentos simples; já o terceiro nível é o nível pericial", explica. As dicas que ofereceu são as do primeiro nível.

Primeiro passo - aspecto tátil

Ao pegar na cédula, a pessoa deve observar uma aspereza no papel. Se passar o dedo, vai sentir que ele é áspero. Passar o dedo, e sentir um papel muito liso, já é um indicativo de falsidade. Isso porque o papel é impresso com tinta em alto relevo. No entanto, às vezes os falsificadores conseguem simular a aspereza colocando resina por cima da impressão. Por isso, é necessário verificar mais um elemento de segurança.

Segundo passo - marca d"água

A marca d'água é uma imagem que normalmente está oculta na cédula, mas quando você a coloca contra a luz, percebe que surge uma imagem como se fosse uma sombra no momento que a luz a atravessa.

As cédulas mais modernas têm no verso o desenho de animais, e essa marca d'água que aparece é exatamente a imagem do animal. Nas mais antigas, são duas possibilidades: a imagem da bandeira nacional ou a imagem da efígie da República, a mulher observada na frente da cédula.

Entretanto, mais uma vez, o fato de existir essa marca não mostra de fato a autenticidade, porque os falsários às vezes simulam. Segundo o perito, uma pessoa mais treinada consegue observar a diferença, mas os leigos não. Então, na ausência da marca d"água, a nota com certeza é falsa. Mas na sua presença, é necessário checar ainda o registro coincidente.

Terceiro passo - registro coincidente

Nas cédulas mais antigas, há uma figura circular no lado direito. Nas novas, uma figura geométrica retangular no lado esquerdo superior. Essas figuras são impressas tanto na frente, quanto no verso da nota, e no caso das cédulas autênticas elas são impressas completamente superpostas. Com isso, ao colocar a cédula contra a luz, a pessoa vê uma figura perfeita.

Na antiga, uma estrela de cinco pontos perfeita. O nome é registro coincidente porque a imagem é perfeitamente superposta. Nas cédulas falsas, quando são colocadas contra a luz, é possível ver uma distorção, então a imagem que se forma não é uma imagem perfeita.

Nas mais novas, no registro coincidente, quando a luz atravessa, é possível verificar o número correspondente ao valor da cédula. E do lado esquerdo, aparecem círculos perfeitamente centralizados.

Extra - microletras

Neste exemplo já seria necessária uma lupa. Tenho uma lupa, a pessoa consegue verificar nos versos das cédulas que há a indicação do número do valor e, dentro dele, o mesmo número repetido várias vezes em microletras.

Extra - papel branco

Outra forma é pegar a cédula e passar ela esfregando no papel em branco. Pega um papel em branco, pega a cédula, e com o dedo esfrega a cédula no papel. Vai se observar que ela larga uma tinta da cor da nota.

O que fazer em caso de recebimento de nota falsa?

Caso uma pessoa desconfie que recebeu uma nota falsificada a partir das dicas citadas acima, o Banco Central indica o que deve ser feito a depender da situação. Se o pagamento com uma cédula falsa for realizado fora de uma agência ou do horário do expediente bancário, a pessoa deve, o quanto antes, se dirigir à sua agência e pedir substituição imediata por uma nota verdadeira. O cidadão ainda pode procurar uma delegacia para registrar possível ocorrência.

Se o caso acontecer dentro de uma agência bancária, como terminal de autoatendimento ou caixa eletrônico, a pessoa deve imediatamente procurar o gerente. Cabe à Polícia Federal investigar o crime.

Correio da Bahia

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