Na madrugada de terça-feira (2), o professor Armstron Pereira de Souza, de 50 anos, acordou com um forte barulho de ventania e de água caindo no telhado da sua casa. Morador do município de Barra, no oeste baiano, ele conta que, ao pegar o celular, se deparou com fotos e vídeos dos transtornos causados pela tempestade na cidade, enviados por moradores tanto do centro como das periferias.
"Um dos bairros mais castigados pelo grande volume de água foi o Sagrada Família, antiga Subestação, onde os moradores tiveram suas residências alagadas e perderam móveis, eletrodomésticos, colchões, dentre outras coisas. Alguns carros ficaram quase totalmente submersos, causando um grande prejuízo a população. Também choveu bastante na zona rural do município", detalha.
O desespero de Armstron foi comum a muitos outros moradores de municípios do oeste e do sul da Bahia. Isso porque, entre segunda (1) e terça-feira (2), algumas cidades acumularam mais de 100mm de volume de chuva, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Barra, que na terça foi o município onde mais choveu em todo o Brasil, chegou a atingir incríveis 283,6mm em dois dias.
A prefeitura de Barra foi procurada para responder sobre a situação da cidade após as fortes chuvas, mas não houve resposta. De acordo com a Defesa Civil da Bahia (SUDEC), a chuva foi repentina, mas não chegou a registrar vítimas.
Segundo a prefeitura de Luís Eduardo Magalhães, onde houve acumulado de 150mm de chuva, 69 famílias foram acolhidas pela Secretaria da Cidadania por conta do prejuízo gerado. As pessoas estão alojadas em um abrigo do município e em dois hotéis e serão contempladas com o aluguel social. A prefeitura afirma ainda que as tempestades não causaram danos aos prédios municipais, como escolas e hospitais, e que, para as vias afetadas, já estão sendo programados reparos.
Já em Formosa do Rio Preto, segundo a Secretaria de Infraestrutura da cidade, não houve registros de pessoas desabrigadas ou desalojadas. De acordo com a Defesa Civil de Ibotirama, as chuvas na cidade ainda estão calmas, sem grandes ocorrências. Em Vitória da Conquista, segundo a prefeitura, a chuvarada ainda não chegou.
No fim de 2023, Ibotirama era uma das cidades mais quentes da Bahia, sendo afetada por ondas de calor e chegando a atingir a segunda temperatura mais alta do país (39,3ºC) no dia 10 de dezembro, atrás apenas de Bom Jesus da Lapa (40,1ºC), também no oeste baiano.
Segundo o meteorologista Giuliano Nascimento, essa mudança repentina é comum nesses locais durante o verão e acontece devido à formação de diversos sistemas meteorológicos que provocam chuvas intensas. "Alguns exemplos são a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) e o Complexo Convectivo de Mesoescala. Em destaque, é a atuação do El Niño, que é o aquecimento da água do Oceano Pacífico, que altera a frequência de chuvas em grande parte do país", detalha.
Ele acrescenta que o tempo instável dos últimos dias se deve à formação da convergência de umidade, intensificada pela passagem de uma frente fria somada a um Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN), que faz o ar seco de níveis mais altos descerem para a superfície, sobre o litoral do Nordeste.
Andréa Ramos, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), acrescenta que esse cenário é favorecido por um conjunto de fatores comuns no verão, época de mais calor e umidade. Nos últimos dias, especificamente, o que potencializou a mudança de tempo foi um corredor de umidade em algumas regiões do estado.
Ela afirma ainda que, a partir de hoje (4) tem início um sistema muito característico do verão, a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), cujas características são o aumento da umidade em vários níveis e o proporcionamento de dias com chuvas.
"Por isso, nos próximos dias, a tendência vai ser justamente termos chuvas de dois até três dias, ou até ficar quatro dias mantendo chuvas constantes. Em alguns momentos fraca, outros moderada e em alguns outros momentos forte. Com isso vêm também umas rajadas isoladas e pode acontecer até trovoadas", antecipa a especialista.
Fonte: Correio