Simplicidade somada ao cuidado resulta em dengo quando o assunto é música junina para dançar um xote coladinho. Quem canta com perfeição sobre essa conta que está longe da matemática e mais próxima do afeto é Del Feliz, cantor que entoa os versos de "Meu Dengo", canção que venceu o Troféu CORREIO Folia Junina 2023 após conquistar o coração forrozeiro do público que votou na enquete da premiação, no site do CORREIO. As músicas que concorreram foram selecionadas pelo jornalista e colunista Osmar 'Marrom' Martins.
A vitória foi apertada. Por 50 votos de diferença, "Meu Dengo" desbancou "Erro Gostoso", de Simone Mendes e ficou com o primeiro lugar. A enquete recebeu mais de 16 mil votos, sendo 2.226 (13,5%) dedicados à música campeã e 2.176 (13,2%) dedicados a segunda colocada Em seguida, "Desacostumou", de Flor de Maracujá, recebeu 11,3% dos votos e "Coisa Linda", da Banda U Tal do Xote, 10,3%. Por fim, Adelmário Coelho, com a música "Um Metro e Sessenta" fechou o ranking com as cinco primeiras colocadas, com 8,6% dos votos.
Em meio a uma agenda lotada de shows, Del Feliz comemorou a conquista do prêmio. "Recebi o troféu com muita honra. Fiquei extremamente feliz e agradecido, mas, acima de tudo, com uma sensação muito boa de que a nossa música nordestina e forrorezeira têm recebido um olhar carinhoso da imprensa. Ter minha música entre as classificadas é motivo de alegria, mas imagine ganhar. Acho que isso também ratifica uma relação muito carinhosa com os fãs", destaca.
Para Jorge Gauthier, editor de mídia e estratégia digital do Jornal CORREIO, a disputa pela melhor música do São João refletiu os festejos juninos. "O troféu desse ano teve uma das disputas mais acirradas com uma diferença muito pequena das cinco primeiras músicas. Isso é reflexo do que é o nosso São João: uma mistura de ritmos, gostos e referências", resumiu.
Pedida e cantada pelo público em todas as cidades por onde já passou neste mês – cerca de 20 –, "Meu Dengo" foi composta por Del Feliz e Allan Requião, parceiro do cantor em outras composições. Del conta que a música foi especial para ele desde o primeiro momento.
"Eu gosto de fazer música que instiga reflexões ou que leve uma mensagem que corrobore com aquilo que eu sinto e penso. E essa música tem muito isso de valorizar a essência, a simplicidade e o invisível. Num tempo em que as pessoas falam tanto em ostentação, que a gente valorize um fogão de lenha, sente para tomar café em um copo de plástico ou de requeijão. A felicidade mora nas coisas simples, no invisível", diz.
A sabedoria adquirida para ter essa visão da vida e difundi-la através da música acompanha Del desde a infância no distrito de Barreiros, em Riachão do Jacuípe, município localizado próximo a Feira de Santana. Era lá que ele bebia água de pote e guarda as primeiras memórias do carinho e das cantorias de sua falecida mãe, Dona Nicinha, enquanto lavava roupa no rio ou quando se juntava para cantar reisado, manifestação popular que celebra o nascimento de Jesus. Veio daí, então, sua relação com a música.
"Mainha é minha grande fonte de inspiração, tanto que uma das músicas que mais marcaram a minha carreira é justamente a música "Mainha", do meu primeiro álbum", lembra o cantor, que recentemente recomprou a casa em que vivia a infância com a mãe com o objetivo de transformar o local na Casa de Mainha Feliz, espaço dedicado a uma associação para o ensino das artes para a comunidade.
Dando os primeiros passos na arte com a escrita de cordel, testando a percussão e se arriscando na bateria, Del se encontrou de fato no canto e na composição. O artista compôs O hino do São João da Bahia, que foi gravado por 40 cantores em três idiomas estrangeiros, e é considerado o Embaixador do Forró, título que lhe confere prestígio nas festas juninas. Neste ano, não tem sido diferente.
"Estou tendo o melhor São João de todos os tempos. Já percorri alguns lugares importantes, inclusive fora do estado. Mas, reconhecendo que a Bahia faz o maior São João do Brasil indiscutivelmente, eu tenho muita gratidão pelas cidades em que passei", relata. "É tanta coisa bacana que eu posso comemorar que eu não poderia ter outro nome que não fosse Feliz. Se eu tivesse que escolher um sobrenome agora seria Gratidão", finaliza.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo