Os jornalistas Marcelo Castro e Jamerson Nascimento, além de uma terceira pessoa não revelada, foram indiciados pela Polícia Civil por suposta participação no esquema conhecido como "Golpe do Pix da Record". O trio responderá por estelionato, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Em entrevista coletiva, o delegado Charles Leão, responsável pelo caso, não divulgou oficialmente o nome dos suspeitos, mas deu detalhes da investigação.
"Até o presente momento, todas as alegações trazidas pelos investigados não foram alicerçadas por qualquer documento. Isso me dá uma convicção para acreditar nas vítimas, que são pais, mães, pessoas com doenças...", revelou o delegado.
As prisões ainda não foram solicitadas, pois o inquérito não está concluído. O conteúdo da investigação deve ser encaminhado em breve para o Ministério Público.
Até o momento, 61 pessoas foram ouvidas pela Polícia Civil. Ao menos 14 pessoas foram vítimas do esquema. "A nossa investigação sempre foi pautada pela transparência. Pelo livre acesso a todos os advogados. Os defensores dos investigados já tiveram acesso ao conteúdo da investigação por mais de 10 vezes", ressaltou.
No dia 3 de maio, o próprio Marcelo Castro foi até a Delegacia de Repressão aos Crimes de Estelionato por Meio Eletrônico (DreofCiber) acompanhado do seu advogado Marcos Rodrigues.
Ainda não se sabe o valor total desviado. No entanto, no caso da doação feita pelo jogador Anderson Talisca, apenas R$ 40 mil dos R$ 109 mil doados foram repassados a mãe de um menino que estava doente.
Marcelo Castro e Jamerson Nascimento trabalhavam no programa Balanço Geral Bahia, da Record TV Itapoan, como repórter e produtor, respectivamente. Não se sabe se o terceiro indiciado também atuava na atração.
11 de março de 2023 - O esquema é descoberto depois que o ex-jogador do Bahia, Anderson Talisca, procurou a família de uma garotinha para quem tinha doado, via PIX fornecido pela TV, R$ 70 mil para um tratamento de câncer. Os pais da menina disseram ao jogador que não recebeu nenhum recurso, e que a filha havia morrido.
Nota – Nesse mesmo dia, o diretor de jornalismo da Record TV/Itapoan, Gustavo Orlandi, enviou uma nota ao CORREIO, confirmando que a empresa estava apurando as suspeitas de desvio de dinheiro doado através do PIX;
13 de março – O CORREIO tem acesso ao áudio de um funcionário da emissora, que preferiu não se identificar. Ele confirmou a situação, apontou que o desvio do PIX das doações não era algo novo e que os valores do golpe poderiam ser ainda maiores. Nesse mesmo dia, a Polícia informou que abriu uma investigação sobre o caso;
14 de março – Pessoas que tiveram a situação exposta na TV e não receberam ajuda apelam para que seja feita justiça. O Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) se pronuncia e pede rigor nas investigações;
17 de março – O apresentador José Eduardo (Bocão) conta em um podcast que ficou sabendo do golpe quando foi procurado pelo empresário do jogador, que pensou "não é possível, não são essas pessoas", mas que levou a denúncia até a direção da emissora, e que a Record/Itapoan abriu uma investigação interna para apurar o caso.
31 de março - A emissora demite, por justa causa, o apresentador e repórter Marcelo Castro e o editor-chefe do Balanço Geral, Jamerson Oliveira. A Defesa dos jornalistas classificou a medida como desproporcional, e diz que as demissões foram precipitadas, sem a devida apuração e sem ouvi-los. Zé Eduardo liga o nome dos dois ao caso pela primeira vez e afirma que eles estão sendo investigados pela Polícia Civil.
12 de abril – A polícia reúne a imprensa para informar que 15 pessoas estão sendo investigadas, incluindo dois rifeiros. O delegado explicou que os envolvidos são dois jornalistas e pessoas que orbitam ao redor deles, cedendo o PIX que era colocado em tela no lugar dos dados das vítimas. Os nomes não foram divulgados.
18 de maio - Os jornalistas Marcelo Castro e Jamerson Oliveira são ouvidos na Delegacia de Repressão aos Crimes de Estelionato por Meio Eletrônico, na Mouraria;
19 de maio - A polícia divulga o conteúdo dos depoimentos dos jornalistas Marcelo Castro e Jamerson Oliveira. Ambos informam que houve movimentação financeira entre eles em razão de um empréstimo em dinheiro vivo de dezenas de milhares de reais a um amigo de infância. O amigo é um dos titulares de chaves PIX utilizadas na fraude;
O caso veio à tona após a equipe do jogador de futebol baiano, Anderson Souza Conceição, mais conhecido como Anderson Talisca - que atualmente joga pelo Al-Nassr - cobrar informações sobre uma doação que teria sido feita por ele. Sensibilizado com a história de uma criança, o atleta teria doado cerca de R$ 70 mil.
Em nota enviada ao CORREIO no dia 11 de março, o diretor de jornalismo da TV Itapoan, Gustavo Orlandi, confirmou que a empresa investigava a denúncia de que funcionários da organização teriam desviado dinheiro de doações feitas por telespectadores através de pix.
"A RecordTV Itapoan, assim que recebeu as denúncias, apura os fatos e tomará todas as medidas legais cabíveis para o caso", disse, por email. O esquema funcionava através do programa Balanço Geral. Pessoas em dificuldade relatavam seus casos na atração televisiva, comovendo o público, que fazia doações via Pix.
Depois da descoberta, o caso então passou a ser investigado pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Estelionato por Meio Eletrônico (DreofCiber), que também está analisando depoimentos, matérias jornalísticas, vídeos e prints de redes sociais.
Marcelo Castro se pronuncia publicamente
O repórter Marcelo Castro, um dos investigados pela Polícia Civil no 'Golpe do Pix da Record', afirmou que os R$ 70 mil enviados pelo jogador de futebol Talisca para a mãe da criança que estava doente caíram na conta da mulher.
"O advogado de Talisca me ligou e perguntou onde eu botaria o dinheiro. Os 70 mil que ele botou caiu em 5 minutos na conta da mulher. A criança, no dia seguinte, morreu porque a médica do hospital não quis aplicar a injeção, parece", afirmou o jornalista em entrevista ao canal Sem Censura TV. A entrevista foi ao ar na noite do último dia 10.
Questionado sobre a viagem que fazia a Dubai quando o caso veio a público, Marcelo Castro disse que ainda está pagando a passagem, que "dividiu em 10 vezes".
"A viagem estava programada com minha família para visitar meu irmão, que mora lá. Depois, minha noiva entrou na minha vida e comprou também a passagem. De repente lá recebi a mensagem que me acusaram de aplicar um golpe. A empresa falou 'Quando vc voltar de férias a gente conversa' e já fui procurar meus advogados".
Fonte: A Voz da Região / Correio24Horas