O aumento da letalidade nos ataques em escolas foi provocado pelo maior número de armas de fogo nas mãos de civis, indica um estudo inédito do Instituto Sou da Paz. Divulgado nesta segunda-feira (22/5), o levantamento mostra que dois dos três casos com maior quantidade de vítimas ocorreram entre 2019 e 2022, mesmo período em que o ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL), promoveu a flexibilização das armas no país.
As conclusões foram apontadas, também, porque o estudo mostrou que, em 60% dos casos, as armas de fogo utilizadas nos atentados estavam dentro da residência do agressor. Elas pertenciam ao pai, à mãe ou a outro parente do autor do crime. Em 40% dos casos, as armas eram de um servidor da área da segurança.
"O estudo mostra que a disponibilidade de armas em residências favorece esse tipo de crime e aumenta a letalidade. Em alguns casos, estudantes tentaram e não conseguiram armas de fogo para usar nos ataques, o que poderia ter aumentado o número de vítimas. Isso coloca em evidência o quão crucial é o controle do acesso às armas", diz Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz.
Em três anos da gestão passada, foram 24 casos de atentados em ambiente escolar. A letalidade das tragédias se tornou maior quando houveram tiros. Ao todo, em 11 ataques com abertura de fogo, foram geradas três vezes mais vítimas fatais do que com armas cortantes ou perfurantes. Em média, pelo levantamento, os casos com arma branca tiveram uma vítima fatal e três não fatais. Já os com uso de arma de fogo resultaram em três vítimas fatais e cinco não fatais.
Um detalhe evidenciado no estudo foi que autores desse tipo de crime dão sinais sobre suas intenções. Entre os agressores, a maior parcela são de alunos da própria escola (59%). Um dos comportamentos, repetido em dois casos, é que os autores pararam de ir às aulas por meses e tanto os pais como a escola nada fizeram.
[Não houve] Nenhuma providência de busca ativa — considerada um fator de proteção — que tenha sido feita pelas autoridades, o que contribui para o isolamento e radicalização desses estudantes ao ficarem longe do ambiente escolar", esclarece o estudo.
Outra questão é o tempo de planejamento que o adolescente teve para o atentado. "Em pelo menos 20 casos, houve o planejamento por semanas ou meses. Este diagnóstico reforça que há um prazo hábil para que a comunidade escolar [funcionários, professores, alunos e pais] possa notar mudanças de comportamento, ou até atos preparatórios, e consiga tomar medidas para intervir", aponta o documento.
Neste ano, a maioria dos ataques ocorreu em abril, mês em que ocorreram ataques em escolas de grande repercussão na mídia, como os massacres de Columbine, nos EUA, e do Realengo, no Rio de Janeiro. Esse é um ponto que concorda com a fala de especialistas de que há um culto em grupos de extrema-direita à coragem e discursos dos autores desses casos, e uma tentativa de repetição dos ataques.
Entre as recomendações do estudo, além do endurecimento das regras e fiscalização para a compra de arma de fogo, está o estabelecimento de programas específicos para a saúde mental dos estudantes e de mediação e justiça restaurativa nas escolas para lidar com conflitos e bullying, além da a revisão de facilidades para adolescentes, a partir de 14 anos, frequentarem clubes de tiro.
Preparação de equipes policiais para monitoramento de redes sociais, fortalecer os vínculos entre a direção da escola e batalhões locais, até para que a resposta a esses eventos tenha o objetivo de eliminar a ameaça de forma mais célere em todas as frentes, inclusive de socorro às vítimas, também foram sugestões. A corresponsabilização das empresas digitais também foi apontada como importante.
Fonte: A Voz da Região / Correio Braziliense