O cenário da ciência no país vem sendo ocupado majoritariamente por mulheres. Segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em 2021, 54% dos estudantes em cursos de pós-graduação stricto sensu são mulheres. Dos 405 mil alunos de mestrado e doutorado no Brasil, 221 mil são mulheres. Também são elas que lideram o número de bolsas no país. Em 2020, as pesquisadoras representavam 58% do total de bolsistas stricto sensu.
"É notável que as mulheres ocupam cada vez mais espaço nas mais variadas áreas do conhecimento, com presença crescente, tanto no ambiente das universidades como no mercado de trabalho", afirma Ana Carolina Monteiro dos Santos de Alcântara, advogada e pesquisadora em religiosidades, relações étnico raciais e intolerâncias, além de mestra pelo Programa de Psicologia da Universidade Federal do Pará (UFPA). Entretanto, há obstáculos a vencer. "Apesar da luta histórica, dos avanços já alcançados e dos seus relevantes feitos e descobertas para a humanidade, a presença feminina ainda é minoria nas áreas da pesquisa científica tecnológica", contrapõe.
A experiência feminina em espaços de produção de conhecimento ainda é desafiadora. "Dados da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) revelam que ainda estamos e estaremos nos próximos anos muito atrás dos homens em números absolutos", explica Thérèse Hofmann Gatti, doutora em Desenvolvimento Sustentável e professora do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília (IdA /UnB). "Acredito que o estímulo à pesquisa deve começar ainda no ensino médio", completou.
Em fevereiro, a Unesco divulgou que as mulheres representam 33,3% do total de pesquisadores no mundo e apenas 35% de todos os estudantes das áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) aponta um cenário similar ao da Capes: entre 2020 e 2021, bolsistas de doutorado se dividem meio a meio, 50% são mulheres; já no mestrado, as pesquisadoras correspondem a 52%.
Para Adelma Pimentel, professora titular do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas/Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), ao refletir sobre a inserção de mulheres na pesquisa científica é necessário, também, analisar o papel de homens brancos, "que delimitam as políticas de financiamento e de temáticas a investigar".
"Esta baliza abre outro desdobramento: o sexismo, ainda presente nas áreas científicas, em que as pesquisas em ciências exatas e tecnológicas têm percentuais de mulheres reduzidos, ante a vigência de uma antiga falácia, oriunda de uma visão epistêmica binária, que separa racionalidade de emoção, associando esta última nuance às mulheres", observa.
A cientista pontua que as diferenças dentro da produção de conhecimento, no âmbito acadêmico, coloca dificuldades ainda maiores quando se fala de mulheres negras ou indígenas. "As transformações no cenário político, econômico e social no mundo estão associadas às lutas de mulheres que integram Universidades, movimentos sociais, com destaque para o das trabalhadoras operárias e das mulheres pretas, com demandas especificas, devido o Brasil ter sido o último país no mundo a abolir a escravidão formalmente. No campo ético, há dissonâncias entre mulheres e entre mulheres e homens, no que se refere ao salário e ao financiamento da pesquisa", destaca.
Fonte: A Voz da Região / Correio Braziliense