Quando se trata do tema da redação do Enem, o que se sabe apenas são os assuntos que já passaram. O que vai aparecer nas carteiras dos estudantes no dia 13 de novembro - data do primeiro dia de provas - ainda é uma incógnita. Como de costume, os candidatos já estão ansiosos e tentam, de todas as formas, adivinhar qual será a bola da vez. "Eu chutaria quatro: importância da educação prisional no Brasil, meios para prevenir a violência doméstica, formas de combate à evasão escolar e combate à violência obstetríca", arrisca Daniel Brito, 24 anos.
Mas quais são os temas mais prováveis segundo quem mais conhece do assunto? Professor de redação há seis anos, Vinícius Zacarias, antes de indicar os temas mais cotados, ressalta que não existe "advinha" quando o assunto é o tema da prova. O que há, na verdade, é um processo de investigação. "É interessante observar que esse acaba sendo um processo de investigação. Estar atento ao que acontece no mundo, no Brasil. A gente coleta informações e evidências que possam indicar um tema ou mesmo um eixo temático", pontua o professor.
Os mais cotados
É a partir dessa análise que professores destacam temas 'favoritos' para pintar na parte dissertativa da prova. Professor de redação há 30 anos, Léo Mendes não deixa de ter seus palpites, apesar de ponderar que o mais importante é o preparo para qualquer que seja o tema abordado.
"Considerando o perfil da prova da redação, onde os temas têm mais uma vertente social, eu acredito que a gente pode apostar em um tema como segurança alimentar, tema que voltou com a fome no país. [...] Assim como o consumo de açúcar ou obesidade infantil, mas aí mais por intuição", conta ele.
Vinícius Zacarias, ao invés de apostar em temas específicos, prefere indicar eixos temáticos que, na sua visão, são mais prováveis. Ao todo, ele cita alguns eixos como os mais cotados para o exame.
"O primeiro é o 'minorias e diferença', algo ligado aos direitos de populações historicamente oprimidas. [...] Um outro eixo é educação financeira, seja do recorte da família ou como política pública. Outro é a tecnologia no ambiente de trabalho, que pode pautar o trabalho por aplicativos ou trabalho remoto", fala ele, que acertou dois dos últimos seis temas da prova de redação.
Adriana Telles, professora de língua portuguesa do IFBA de Salvador, prefere não falar em palpites. Ela diz que é mais produtivo mobilizar os estudantes a prestarem atenção na estrutura do tema, seja ele qual for.
"O tema é sempre um problema. Então, o interessante é saber resolver. Independente do tema, é importante ser capaz de construir uma argumentação e intervenções que solucionem as questões apresentadas", aconselha Adriana.
Preparação final
Para estarem prontos para construir uma dissertação no tema que for proposto, os estudantes já definiram estratégias para otimizar a preparação nessa reta final. Poliana Lima, 27, quer cursar Direito e afirma se planejar para fazer revisões nas últimas semanas de estudo, o que ela acredita ser mais eficiente para o seu processo de aprendizado.
"Fiquei [ansiosa] nas provas anteriores. Nessa, eu tenho alguns palpites legais, estou mais tranquila. Racismo no futebol, desafio dos autistas na sociedade brasileira, mobilidade urbana e aumento da população carcerária no Brasil [são os palpites]. Vou ficar apenas em aulões. Acredito que a essa altura não vale a pena ver assuntos, só revisar", diz Poliana.
Já Daniel Brito deve seguir um caminho diferente. Ele já tem uma rotina de estudos relacionados a redação, mas pode até dobrar o esforço que faz nessa reta final. Isso porque, para ele, a redação pode e deve ser decisiva para a aprovação no curso de Gestão de Políticas Públicas.
"[Me preparo] fazendo a prática de redações ao menos duas vezes por semana. Com a proximidade, creio que talvez precise aumentar para três ou quatro. A redação tem um grande potencial de subir a nota. E como disse, comprei um curso rápido muito recomendado para ter o peso de levar ainda mais a sério", conta ele.
Vinicius Reis, 25, quer fazer o curso de Ciências Contábeis. Na reta final para a prova, ele pretende mesmo é descansar e tirar o nervosismo de cima do exame. Para ele, intensificar os estudos não funciona como tática de otimização do aprendizado quando a prova está perto.
"Eu acho que vai cair algo relacionado a mobilidade urbana, agronegócio e talvez sobre pessoas com deficiência. Acredito que, se você estudou o ano inteiro para a prova, estudar bem próximo da data de realização não irá trazer algum benefício. Prefiro descansar e abordar de leve revisões para que o nervosismo não apareça", afirma.
Dica de mestre
Além de ouvir os estudantes sobre as suas estratégias, a reportagem pediu aos professores para elencar dicas preciosas para o curto período de estudo até o exame. Veja abaixo:
Interpretação multimodal
"É importante e produtivo estar pronto para interpretar os elementos fornecidos pela prova, sendo capaz de observar e interpretar de forma multimodal, aproveitando dos textos e também de imagens que possam estar disponíveis na prova", salienta Adriana Telles.
Repertório cultural
"É interessante que você coloque no texto e apresente ao corretor seu conhecimento cultural. Então, é importante saber relacionar o tema com obras literárias e referências cinematográficas, por exemplo. Matrix e Black Mirror são exemplos interessantes que abordam temas sociais", orienta Vinícius Zacarias.
Mantenha-se atualizado
"Os estudantes devem continuar conectados com que acontece no Brasil e no mundo. As atualidades são sempre úteis de forma geral e, especificamente, para a redação. Para fazer um texto argumentativo, a pessoa precisa ter conteúdo e repertório. Quanto mais informada a pessoa for, melhor", completa Léo Mendes.
Fonte: A Voz da Região / Correio24horas