O acúmulo de dívidas de Lázaro Viana, 26 anos, teve início na pandemia e chegou a somar cerca de R$3 mil. Mesmo trabalhando, o baiano de Vitória da Conquista não conseguiu dar conta das despesas do cotidiano. O jovem faz parte de um contexto que se repete em milhares de lares baianos. Prova disso é que o estado é o quarto em número absoluto de inadimplentes, com mais de 4,33 milhões de pessoas com dívidas, de acordo com o Mapa da Inadimplência divulgado pelo Serasa Experian na quarta-feira (28).
A dívida com bancos por causa de cartões de crédito não foi só a sina de Viana. O segmento é responsável por quase 30% das inadimplências dos baianos. Em seguida, estão serviços de utilidade pública, como água e luz (23%), e dívidas com empresas de varejo (19%). Um dos motivos que fazem o cartão de crédito ser o grande vilão dos endividamentos é a falsa noção de que muitas pessoas têm de que ele é um complemento de renda, como explica o presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), Gustavo Pessoti.
"O cartão de crédito é uma antecipação da renda e não um prolongamento da renda. Então, não faz sentido alguém ter mais do que duas bandeiras de cartão. Pessoas que têm muitos cartões, de lojas e supermercados, tendem a sofrerem mais com a impulsividade e podem negligenciar as despesas que não são pagas no cartão de crédito", explica o economista.
Em dois dos três bancos que contraiu dívidas, Lázaro conseguiu fazer acordos e agora paga parcelas mensais que somadas custam R$ 217. Mesmo subindo de cargo na empresa que trabalha, o jovem teve que cortar despesas para que as parcelas pudessem caber no orçamento.
As dívidas de Lázaro Viana somavam cerca de R$3 mil Foto: Acervo Pessoal |
"Eu fiz muitos cortes de despesas desnecessárias e de pouco consumo, como sair, o que possibilitou que eu fizesse o acordo com os bancos", afirma Lázaro.
A educação financeira, no entanto, não é nem de longe o único motivo para que 44% da população com mais de 19 anos esteja endividada na Bahia. A desigualdade social é um motor para que muitas famílias não tenham nem o que poupar e acabem acumulando dívidas com as despesas básicas. Cerca de 70% das dívidas do cartão de crédito dos brasileiros são com gastos essenciais, como alimentação.
"A maior parte das pessoas no país, e a Bahia é um exemplo claro disso, possuem um nível de renda muito baixo e necessidades altas. São recursos escassos para necessidades ilimitadas, que se renovam no dia a dia. No mercado, por exemplo, ao longo dos dias, há manutenção de preços de determinados produtos", afirma Gustavo Pessoti. A maior parte dos inadimplentes são mulheres (52,5%) e possuem entre 41 e 60 anos (35%). Em seguida está a faixa etária de 26 e 40 anos (34%).
Pandemia e inflação ajudam a tornar o cenário ainda mais difícil. Entre janeiro deste ano e agosto, o número de inadimplentes cresceu de 64,8 milhões para 67,9 milhões no país. "As pessoas tiveram redução de renda na pandemia e aumento dos gastos, o que impactou no pagamento das contas", explica Fernando Gambaro, especialista do Serasa Experian.
A Bahia fica atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, os três estados mais populosos do país, no ranking do endividamento. Apesar de o Serasa não divulgar a lista de estados com inadimplentes proporcionais à população, se utilizarmos como base o censo de 2010, a Bahia possui taxa de 31%, menor do que Pernambuco (35%) e Rio de Janeiro (42%).
Financiamento
Desde de que se formou há seis anos, Risley Moura, 28, carrega um peso nas costas e nas contas bancárias. O jovem cursou Odontologia em uma faculdade particular em Salvador e, por conta da condição financeira da família, teve que optar pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Assim que terminou o curso, começou a trabalhar para pagar parcelas de cerca de R$ 1 mil que, no total, somavam R$ 130 mil.
Risley parou de pagar as parcelas do Fies por conta da pandemia e a dívida soma cerca de R$120 mil Foto: Acervo Pessoal |
"As parcelas estavam altas para mim na época e eu não consegui negociar. Aí eu fui me virando para pagar entre 2018 e 2020, mas aí veio a pandemia. Uma das clínicas que eu trabalhava teve que fechar as portas e eu não tive mais condições de manter o pagamento das parcelas. Aí tudo foi embolando", conta Risley.
O dentista até tentou fazer a renegociação da dívida com o desconto disponibilizado pelo Governo Federal neste ano, mas não conseguiu pela internet e nem pelo telefone. Como sua agência bancária fica no Piauí, ele planeja uma viagem para resolver a questão. Enquanto isso, Risley acaba sendo prejudicado no cotidiano por conta do nome sujo.
"Meu nome está no Serasa, então por mais que eu pague as parcelas do cartão de crédito da forma correta, os bancos sempre demoram mais do que o normal para aumentar o meu limite", diz.
Depois de pagar a primeira parcela da renegociação, inadimplente já pode ficar com o nome limpo
Para que Lázaro Viana pudesse fazer acordo com os bancos, foi necessário muita organização e contenção das despesas. Entender quais são os valores das dívidas e para quem se deve, é o primeiro passo para começar uma negociação com instituições bancárias, segundo Gustavo Pessoti. É importante que a pessoa inadimplente também não se proponha a pagar parcelas que não caibam no orçamento. Quando a primeira parcela da negociação com o Serasa é paga no tempo certo, o nome já fica limpo.
"O Serasa Limpa Nome é a maior plataforma de negociação de dívidas do país. Pelo site é possível consultar mais de 152 empresas entre bancos e varejo de vários segmentos. A partir do momento em que a dívida é parcelada e a primeira parcela da renegociação é paga no tempo certo, o nome já fica limpo e a pontuação de crédito melhora", explica Fernando Gambaro.
Os consumidores que buscam renegociar dívidas no Serasa podem conseguir até 90% de desconto. Para isso, é preciso acessar os canais oficiais como o site, aplicativo, ligação 0800 591 1222 ou ainda pelo WhatsApp 11 99575-2096. Também é possível realizar a consulta e negociação presencialmente em agências dos Correios.