Pix na missa: igrejas recebem 30% mais doações com ferramenta

Fiéis realizam ofertas, doações e dízimos por meio de transações instantâneas, popularizadas na pandemia de covid-19

Por A Voz da Região em 17/07/2023 às 11:38:13

Utilizado por muitos brasileiros como uma ferramenta para realização de transferências bancárias, o Pix também se tornou popular em ações do cotidiano de igrejas católicas soteropolitanas. O meio de pagamento instantâneo, criado pelo Banco Central em 2020, aumentou em ao menos 30% as doações dos fiéis aos templos, que começaram a utilizar a tecnologia durante a pandemia de covid-19.

Das 110 paróquias da Arquidiocese de Salvador, aproximadamente 60% utilizam ferramentas tecnológicas nos processos de doações, ofertas e dízimo, de acordo com o coordenador e assistente eclesiástico da Pastoral do Dízimo na Arquidiocese, padre Jaciel Bezerra. O número só não é maior por causa de certa resistência por parte de alguns padres e fiéis.

Localizado no bairro do Imbuí, em Salvador, o Santuário Nossa Senhora da Conceição Aparecida adotou a prática por causa da necessidade sanitária. Como as pessoas deveriam evitar o toque nas cédulas e as extensas filas do ofertório, os QR Codes foram colocados nos bancos da igreja, para facilitar a contribuição dos fiéis e evitar aglomerações.

O resultado da prática é o aumento de 30% das doações, feitas durante o ofertório ou após as celebrações eucarísticas, ao Santuário, sem inclusão dos recursos do dízimo, como aponta o reitor, padre Clériston Mendes. "Há uma participação maior porque as pessoas geralmente esquecem o dinheiro em espécie ou, por causa da insegurança, evitam portar a moeda física", explica.

Metade desse aumento vem do ofertório - parte da missa destinada à apresentação do pão e vinho que serão consagrados no altar e à contribuição dos fiéis. Além do auxílio do Pix, o Santuário utiliza uma outra tecnologia para o dízimo: o programa Servo Fiel. As pessoas cadastradas recebem um chaveiro com um chip, que, quando apresentado sobre uma máquina de cartão comum, identifica imediatamente o colaborador e o mês da contribuição.

A gestora de Recursos Humanos Solimar Miranda, 50 anos, faz a devolução do dízimo via Pix há mais de um ano. A praticidade da ferramenta é ponto crucial para a fiel, que frequenta o santuário do Imbuí. "Depois da facilidade do Pix, quase não vou mais na secretaria", relata. O mesmo acontece com o gerente comercial Bruno Andrade, 38. O católico realiza as doações e ofertas por meio do mecanismo há 8 meses. "Tudo que nos traz segurança, rapidez e transparência tem tudo para dar certo. Não seria diferente com as ações religiosas", pontua.

O uso do Pix também potencializou as doações feitas na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho. O padre Lázaro Muniz, capelão do templo, afirma que a ferramenta ajuda principalmente em doações e pagamentos de ingressos de eventos. "A ferramenta é utilizada para apoio na pastoral e no compromisso dos fiéis."

Na Igreja Nossa Senhora da Vitória, no Largo da Vitória, os QR Codes foram colocados nos bancos há um mês, mas as transferências instantâneas são utilizadas desde a criação do Pix para os pagamentos de taxas de casamentos e batizados, devolução do dízimo, campanhas de arrecadação e outras doações.

"A tecnologia tem facilitado muito. É uma economia ampla. As pessoas não gastam gasolina, por exemplo, para vir à igreja realizar o pagamento de uma taxa", comenta o padre Luís Simões, pároco da Igreja Nossa Senhora da Vitória.

Fiel faz doação via Pix na Igreja Nossa Senhora Aparecida, no Imbuí
Fiel faz doação com ajuda do QR Code na Igreja Nossa Senhora Aparecida, no Imbuí. Crédito: Marina Silva

"Alguns padres ainda não estão acostumados com este novo jeito de ser Igreja no mundo da tecnologia, mas é gratificante ver que nós temos todos esses meios que ajudam a trabalhar para melhor servir à Igreja e ao povo de Deus", diz o padre Jaciel Bezerra, da Arquidiocese.

Dízimo x Oferta

Para os católicos, o dízimo não é um pagamento de uma dívida ou uma taxa, mas uma contribuição feita pelos fiéis, realizada para incentivar a evangelização, além de ser um reconhecimento das graças obtidas por Deus.

A Igreja orienta o dizimista a contribuir com 10% do que recebe, mensalmente, em sua comunidade. No entanto, o padre Jaciel explica que essa porcentagem não é uma obrigação. "Na própria consciência, o fiel analisa qual é a condição dele e o que o coração pede."

A oferta faz parte de um rito específico da missa, o ofertório, sem estipulação de valor.

A Arquidiocese dedica todo o mês de julho à Espiritualidade do Dízimo, quando a Regional Nordeste 3, grupo que reúne as 26 dioceses de Bahia e Sergipe, mobiliza campanhas de incentivo e conscientização sobre as dimensões do instrumento.

Destino dos recursos

Ainda conforme o padre Jaciel, 12% dos recursos recolhidos das ofertas e dos dízimos vão para a Cúria Metropolitana, a serviço da manutenção da Arquidiocese, e 88% ficam nas paróquias. Nas comunidades paroquiais, os recursos são distribuídos em quatro áreas: religiosa, utilizados para manutenção de conventos e seminários; missionária, para auxiliar as atividades evangelizadoras; eclesial, a serviço das manutenções dos espaços físicos; e caritativa, destinados à promoção de atividades sociais e atos de caridade.

*Sob a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro

Fonte: Correio

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