Baianos e baianas faturam alto em plataformas de conteúdo adulto

Consumo excessivo de conteúdo adulto pode afetar negativamente a saúde mental dos consumidores

Por A VOZ DA REGIÃO em 21/06/2023 às 09:23:04
Quem decide criar conteúdos, deve estar atento aos limites da natureza do material divulgado - Foto: Divulgação | Shutterstock

Quem decide criar conteúdos, deve estar atento aos limites da natureza do material divulgado - Foto: Divulgação | Shutterstock

Em meio a um cenário digital em constante evolução, baianos e baianas estão trilhando caminhos altamente lucrativos em plataformas de conteúdo adulto. Longe dos estereótipos tradicionais, criadores e criadoras encontram sua independência financeira e expressão artística ao mesmo tempo em que desafiam as normas da indústria do entretenimento.

Entre os motivos que justificam esse movimento de adesão às plataformas estão a facilidade de produzir os conteúdos, tendo em vista que um celular já pode dar conta do recado, e a constante divulgação de lucros de quem aderiu à ideia.

Ex-Gang do Samba, Rosiane Pinheiro se rendeu ao Onlyfans e afirmou ter tido lucro de R$ 50 mil na primeira semana. Sua entrada no mundo dos conteúdos já era um pedido dos fãs há muito tempo.

"Eu sempre rejeitei, mas após a minha participação no reality 'A Fazenda' eu resolvi abrir porque vi que não era nada de mais. Eu vejo as plataformas como as revistas antigamente. A diferença é que agora nós somos livres e antes tínhamos contrato que nos prendiam", afirmou a candidata a Morena do Tchan.

Rosiane Pinheiro lucrou R$ 50 mil na primeira semana como criadora de conteúdo
Rosiane Pinheiro lucrou R$ 50 mil na primeira semana como criadora de conteúdo| Foto: Reprodução | Instagram

"Eu acho incrível a liberdade, independente de como seja! Cada um tem o direito de empreender e correr atrás dos seus objetivos da forma que seja honesta e limpa", contou ela, que não se arrepende de ter aderido à criação de conteúdos.

"Eu entrei e não me arrependo, está mudando a minha vida financeira". Sobre os riscos, ela afirmou que aprendeu a se defender com a própria experiência de vida. "Eu já tenho 48 anos, a vida me ensinou na prática como dançarina a me defender de tudo sozinha, então para mim é bem tranquilo".

OnlyFans, plataforma pioneira

O OnlyFans, originalmente lançado em 2016, em Londres, não foi inicialmente concebido como uma plataforma exclusivamente voltada para conteúdo adulto. No início era uma plataforma de mídia social que permitia que criadores de diversos nichos, como música, arte, fitness e estilo de vida, compartilhassem seu conteúdo exclusivo com seus seguidores pagantes.

No entanto, ao longo do tempo, com auge em 2020 durante o primeiro ano de pandemia, a plataforma se tornou mais conhecida por hospedar conteúdo adulto e erótico, e muitos criadores passaram a utilizar a plataforma para oferecer esse tipo de conteúdo aos seus assinantes. Esse foco em conteúdo adulto contribuiu para o crescimento significativo e popularidade do OnlyFans como uma plataforma desse gênero.

On Now Play, plataforma brasileira

Em 2019 foi a vez de uma plataforma totalmente brasileira chegar ao mercado: a On Now Play. Alexandre Britto, um dos sócios da plataforma, afirmou, em conversa com o Portal A TARDE, que a empresa surgiu visando possibilitar criadores de conteúdos a criar uma plataforma de distribuição de conteúdos.

Alexandre afirma que a On Now Play não era especialmente destinada a conteúdos adultos, contendo, inclusive, cursos e materiais educativos. Entretanto, com o passar do tempo, o nicho se tornou maioria.

"Somos uma empresa de tecnologia, possibilitamos toda parte tecnológica, desde subir o conteúdo até distribuir. Fazemos os meios de cobrança e pagamentos, recebemos os valores e repassamos aos criadores. Em teoria, a plataforma é agnóstica ao conteúdo, mas a realidade é que eu diria que hoje, 90% ou mais é de conteúdo adulto".

Para o criador, o cadastro e publicação de fotos, vídeos e lives são gratuitos. "A única cobrança que fazemos são os 20% do que for vendido. 80% de toda receita a gente repassa para o criador exatamente para pagar toda estrutura de nuvem, suporte, processamento... Zero de cobrança de taxa de entrada, de permanência, em outras palavras, sem pegadinhas", conta Alexandre.

Quem decide criar conteúdos, deve estar atento aos limites da natureza do material divulgado, que acompanha a lei. "O nosso termo de uso, que o criador tem que aceitar várias vezes, é bem restritivo. Tudo que a legislação já proíbe, logicamente não é permitido. Temos alguns mecanismos para o caso do criador subir um conteúdo ilegal, a gente pode automaticamente excluir esse conteúdo e no limite, encerrar a conta do criador sem justificativa", explica.

A plataforma registra crescimento médio anual de mais de 30%, tanto em número de criadores, quanto de assinantes e visualizações. "Hoje contamos com mais de 30 mil criadores, já passamos de 400 mil assinantes registrados na plataforma e uma média de 50 milhões de visualizações por mês". Dos criadores, atualmente, 900 são da Bahia.

Privacy e o foco na saúde emocional

Além do OnlyFans e da On Now Play, há ainda a Privacy. O influenciador Kevin Karmo, após conversar com uma amiga sobre os ganhos dela como criadora de conteúdo, decidiu arriscar e se animou com o primeiro faturamento. "Fiz um teste em um mês e tive aproximadamente um lucro de R$ 13 mil, então segui na plataforma. Estou desde junho de 2022", contou.

Ele foi motivado a produzir e vender conteúdos justamente na busca da independência financeira. "Você conquistar suas metas, comprar suas próprias coisas com um trabalho que não faz mal a ninguém, é uma coisa que você está ali vendendo online e compra quem quer. A independência financeira é o mais importante", afirma Kevin.

Ele já trabalhava com dança, como influenciador digital, e tem ainda uma loja de roupas. Ele alerta que fica incomodado quando encontra na rua pessoas que acompanham seu trabalho online e causam situações desagradáveis.

"Me incomoda um pouco quando pessoas que me encontram na rua, em festas, e acham que por esse trabalho, você está vulnerável a tudo, são perguntas e coisas bem nada a ver, sem noção, então é bem desconfortável".

Apesar disso, ele entende que o assinante quer aproximação com o criador e tenta suprir esse desejo entendendo o público. "Quem está assinando quer muita aproximação. Por exemplo, conteúdos que vendem mais são os caseiros, mais que os profissionais, ao menos para mim. Então, se você acorda e posta uma foto do próprio celular, vende muito mais do que se você faz um ensaio fotográfico".

Kevin ficou animado com o lucro no primeiro mês e completou um ano como criador de conteúdo
Kevin ficou animado com o lucro no primeiro mês e completou um ano como criador de conteúdo| Foto: Reprodução | Instagram

Para quem pensa em entrar neste universo, ele deixa dicas: "Se você busca sua independência financeira e gosta de expor seu corpo, é exibido, gosta de mostrar mesmo, tem um público bacana para isso... ou até nem precisa, a pessoa cresce dentro da plataforma. Tem que se jogar mesmo para ter independência financeira, ter seu próprio dinheiro e conquistar suas coisas sem ligar para o que os outros falam, independente de tudo. Então, acho importante a questão".

Ao Portal A TARDE, a Privacy afirmou que Kevin é um dos mais de 100 mil criadores brasileiros, que somam mais de 20 milhões de acessos mensais. Por meio de uma nota, a plataforma afirmou que tem como prioridades a segurança e a privacidade, além de terem sido implementadas tecnologias avançadas e processos internos de verificação de dados para garantir a autenticidade e a proteção dos criadores e assinantes.

A empresa afirmou ainda que possui uma política de apoio ao bem-estar dos influenciadores e oferece acompanhamento psicológico. "Estamos comprometidos em promover uma cultura online saudável e inclusiva".

E os riscos?

Mas quais os riscos a exposição e consumo deste tipo de conteúdo pode trazer? A psicóloga Cláudia Meireles, especialista em Sexologia Clínica e Terapia Sexual, afirma que criadores de conteúdos adultos têm os mesmos riscos de impactos psicológicos ou emocionais que qualquer outro profissional pode sofrer no exercício do seu trabalho.

"Um sexólogo clínico, profissional médico ou psicólogo especialista em sexologia clínica, ouve diariamente o relato da história sexual do paciente, com detalhes, ele ouve o sofrimento, é uma escuta especializada buscando identificar qual é o dispositivo que deflagra a disfunção; o sexólogo clínico não se excita com a história do paciente, não é uma escuta erótica. Assim, pode-se concluir que não é a exposição ao conteúdo adulto (no ato da criação quem torna o profissional, seja ele ator ou diretor, câmera ou qualquer outro do set de gravação) que impactará negativamente sobre a saúde mental; esses profissionais estão pensando em caras e bocas, posições, ângulos, iluminação, som...".

Ela alerta que, de modo geral, há uma falta de educação para sexualidade. "É importante saber que o vídeo produzido tem a finalidade de entreter, de estimular sexualmente. O homem, geralmente, gosta de assistir cenas mais explicitas de relação sexual. As mulheres, por sua vez, na grande maioria, apreciam uma boa história, com cenas de sedução. Para ambos, homens e mulheres, é importante saber que a performance dos atores é editada, há cortes, há alguém dizendo: 'corta, vira, mais para direita, mais para esquerda, faz isso'. E, quando chega o produto final, temos um vídeo com verdadeiros atletas sexuais, e, é aí que está o perigo, pois, o consumidor final tende a acreditar que terá aquela mesma desenvoltura e o/o parceiro/a também".

Ela explica que o consumo excessivo de conteúdo adulto pode afetar negativamente a saúde mental dos consumidores, mas quando utilizado de forma terapêutica e controlada, pode ter benefícios na terapia sexual, assim como medicações, que podem ser positivas ou, se em doses inapropriadas, venenosas.

"Toda mudança de comportamento precisa ser avaliada. Quando a pessoal trabalha em um hospital, escola, presídio, comércio, aeroporto (dentre outros tantos locais de trabalho) e percebe que está adoecendo emocionalmente por conta da realidade na qual está inserida diariamente ela precisa de terapia, para poder aprender a manter a saúde psíquica. A mesma orientação vale para o profissional de conteúdos adultos".

Cláudia lembra que atualmente, muitas pessoas gravam vídeos adultos visando apenas dinheiro, fama e seguidores, mas seria irresponsabilidade atestar que estas se tornarão compulsivas.

"A literatura científica conceitua como compulsão por conteúdo adulto, sexual, compulsão masturbatória, compulsão sexual a necessidade descontrolada de acessar o conteúdo adulto, realizar o processo masturbatório a qualquer momento, em qualquer lugar, tornando a pessoa disfuncional, ou seja, deixa de sair para se masturbar, acessar vídeos em qualquer local e hora".

Fonte: A Voz da Região / A Tarde

Comunicar erro

Comentários