Bolsonaro seguirá influente mesmo se ficar inelegível, diz especialista em risco político

Bolsonaro será julgado pelo TSE por ataques ao processo eleitoral, feitos em reunião com embaixadores realizada em junho de 2022

Por A VOZ DA REGIÃO em 20/06/2023 às 11:51:33
(crédito: Getty Images)

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Um dos mais renomados especialistas em risco político do mundo, o americano Ian Bremmer, de 53 anos, diz acreditar que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), marcado para quinta-feira (22/6), exacerba a "polarização política ao alimentar o sentimento da direita de que as instituições são parciais" e teme por suas "consequências extremas".

Nesse dia, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vai analisar ação movida pelo PDT sobre ataques do ex-presidente ao processo eleitoral, em virtude de uma reunião com embaixadores realizada em junho de 2022.

Dependendo do veredito, Bolsonaro pode se tornar inelegível, ou seja, impossibilitado de concorrer a cargo público por oito anos, o que o tiraria da corrida presidencial de 2026.

Na opinião de Bremmer, "responsabilizar políticos é fundamental", mas pode "reforçar a percepção de grande parte da população de que o Judiciário pode estar sujeito à influência política" em um ambiente polarizado como a sociedade brasileira.

Ele também considera que, qualquer que seja o veredito, Bolsonaro não sairá de cena.

"Mesmo que Bolsonaro seja considerado inelegível, ele continuará influente. Qualquer candidato da oposição com sua bênção seria forte", assinala.

Especialista em países emergentes e fundador do Eurasia Group, uma das maiores consultorias de risco político do mundo, com escritórios nos Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Cingapura e Brasil, Bremmer e sua equipe assessoram alguns dos maiores investidores do mundo com suas análises.

Também é autor do best-seller Nós versus Eles: o fracasso do globalismo.

Bremmer concedeu a seguinte entrevista à BBC News Brasil por e-mail antes do julgamento de Bolsonaro.

Ian Bremmer - O julgamento exacerba a polarização política ao alimentar o sentimento da direita de que as instituições são parciais e vão combatê-los a todo custo.

Mas não considero que tenha impacto no governo Lula e na agenda política de curto prazo. E, mesmo que Bolsonaro seja considerado inelegível, ele continuará influente. Qualquer candidato da oposição com sua bênção seria forte.

Ian Bremmer
Eurasia Group
Para Ian Bremmer, 'responsabilizar políticos é fundamental', mas pode 'reforçar percepção que o Judiciário pode estar sujeito à influência política' em ambiente polarizado como sociedade brasileira

BBC News Brasil - Politicamente falando, o senhor vê o julgamento como bom ou ruim para o cenário político divisivo do Brasil? É um sinal de que as instituições democráticas estão funcionando ou um sinal de vingança política da esquerda? Ou ambos?

Bremmer - Responsabilizar os políticos é fundamental. Mas um julgamento rápido com consequências extremas em um ambiente polarizado provavelmente é ruim, pois aprofunda ainda mais essas divisões. Reforça a percepção de grande parte da população de que o Judiciário pode estar sujeito à influência política.

Não vejo isso como uma vingança da esquerda; vejo isso mais como uma reação a um movimento político baseado na retórica anti-establishment e no ataque a tribunais, mídia e outras instituições.

BBC News Brasil - O senhor acredita que o julgamento pode desencadear mais polarização na sociedade brasileira?

Bremmer - Sim. Os apoiadores da direita verão isso como um sinal reforçando sua visão de que são perseguidos injustamente.

BBC News Brasil - E poderia tornar a extrema direita mais forte, ganhar impulso? Ou mais fraca?

Bremmer - Não vai desencadear agitação nem dar impulso à extrema-direita no curto prazo, mas eles vão se manter mobilizados e podem tomar as ruas se o governo Lula sofrer uma crise política ou econômica mais grave.

BBC News Brasil - O senhor traça algum paralelo com o julgamento de Trump? Coincidentemente, os dois ex-presidentes, do mesmo espectro político, antes com laços estreitos entre si, estão sendo julgados ao mesmo tempo, mas ainda contam com grande apoio popular.

Bremmer - Os paralelos são claros, mas os casos são diferentes. Eles não terminarão necessariamente da mesma maneira. Mas uma coisa parece mais clara — que problemas judiciais não tiram os líderes políticos de cena. O presidente Lula é uma prova disso.

Fonte: A Voz da Região / Correio Braziliense

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