Aos 73 anos, Silvia Matos devia fazer aulas de pilates, que custam R$ 200 mensais, para remediar as dores na coluna, mas a renda só quita as contas mais urgentes, como remédios, comida e energia. Por mais de trĂȘs décadas, ela trabalhou como professora da rede estadual, até se aposentar em 2014 com a remuneração líquida de R$ 825. "Com esse salĂĄrio, pode fazer o quĂȘ?", pergunta.
No bairro do Pau Miúdo, onde cresceu e virou professora, Silvia mora com uma irmã. Como a propriedade é da família, não pagam aluguel. Às vezes, ela sai com amigas aos finais de semana, mas de segunda a sexta fica mais reservada.
"Não posso sair muito, nem ficar nas costas dos outros. EstĂĄ melhorzinho para quem tem herança, um filho que estudou. Não tenho. Sou eu e eu", diz.
Desde março, ela e outros professores aposentados pelo estado cobram ao Governo o pagamento da previdĂȘncia em trĂȘs salĂĄrios-mínimos para quem cumpria 20 horas semanais de trabalho ou com base no piso salarial, que deve ser reajustado para R$ R$ 4.420, determinou o Ministério da Educação.
Parte dos aposentados mostram contracheques em que a remuneração é inferior até a um salĂĄrio-mínimo, R$ 1.320, mesmo antes dos descontos devidos, e o salĂĄrio base da categoria.
A aposentada Silvia integra um grupo de professores aposentados, chamado Movimento de Apoio aos Aposentados da Bahia (Mapa). Em um aplicativo de mensagens, 150 integrantes compartilham mensagens.
As histórias mudam de endereço, os elementos em comum se mantĂȘm: dificuldade, passado e esperança. Sem fechar as contas do mĂȘs, hĂĄ aqueles que se afundam em dívidas ou dependem de familiares.
Se o salĂĄrio base de R$ 4.420, referente a quem trabalha 40 horas semanais, for pago pelo Governo da Bahia, aqueles que cumpriam 20 semanais receberão R$ 2.210. Isso significaria, para Silvia, ganhar mais que o dobro de hoje.
Em conjunto, o Mapa enviou uma carta ao governador Jerônimo Rodrigues (PT), professor licenciado da Universidade Estadual de Feira de Santana. Na correspondĂȘncia, solicitou "isonomia entre ativos e aposentados atendendo às legítimas necessidades de quem dedicou sua vida à educação pública".