Sob o ponto de vista das chances do Flamengo, é possível ter olhares mais e menos otimistas para a definição do Al Hilal como o rival de terça-feira, na semifinal do Mundial. O que não mudaria, qualquer que fosse o resultado do jogo deste sábado, era a certeza de que o rubro-negro tem melhores jogadores. Será favorito na terça-feira.
Colocando na balança o que aconteceu em Rabat, o saldo é positivo. Os rubro-negros se livraram de enfrentar um ambiente mais hostil com a torcida da casa, e um adversário capaz de se adaptar melhor ao tipo de jogo que os rubro-negros devem propor. O Wydad Casablanca parece se incomodar menos com a necessidade de ficar sem a bola e mostrou ser capaz de criar problemas em contragolpes. Mas viu o jogo, gradativamente, escapar de seu controle. Já o Al Hilal, habituado a ser dominante em sua liga, é um time programado para controlar o jogo com a bola. Parece desconfortável em contextos diferentes, em jogos que exigem mais de sua defesa.
Além disso, o Al Hilal chegará à semifinal sem Kanno, talvez seu melhor meio-campista, jogador de vigor e capacidade de organização. Curiosamente, ao tomar o segundo cartão amarelo, ele repetiu o que fizera em 2019, no Catar, quando também foi expulso e não enfrentou o Flamengo na semifinal. O peruano Carrillo, habitual titular no trio de meio-campo, desta vez começou no banco e se machucou após entrar. Também pode ser desfalque.
Por outro lado, a vitória nos pênaltis fez avançar um time com mais recursos técnicos, jogadores mais experimentados. Ainda assim, o Al Hilal jogou menos do que se imaginava, parece coletivamente pior do que no encontro de 2019. E que chegará ao jogo de terça-feira com o peso de 120 minutos desgastantes.
O prognóstico mais favorável ao Flamengo reside no casamento entre o poderio ofensivo do time brasileiro e uma aparente dificuldade defensiva dos sauditas. Eles tiveram problemas para conter os contra-ataques pelos lados do Wydad, e para duelar com o centroavante camaronês Lamkel Zé, titular no lugar do lesionado senegalês Sambou. Este último entrou no segundo tempo e também incomodou.
O técnico argentino Ramon Diaz surpreendeu. Iniciou o jogo com o 4-3-3 habitual, mas tirou Salem Al Dawsari – autor do célebre gol contra a Argentina, na Copa do Catar – da esquerda e o colocou no meio-campo. Com isso, Michael saiu da ponta direita e foi para o lado oposto. Vietto também deixou o time: Ighalo foi o centroavante e Marega, jogador que deu muito trabalho com sua imposição física, iniciou pela direita.
O Wydad fechava caminhos pelo meio e o Al Hilal, que iniciava jogadas com os volantes Cuellar e Kanno junto aos zagueiros, tinha dificuldade para progredir. Algo que o Flamengo deve ter atenção é com a capacidade do time de buscar combinações pelos lados do campo. O que, a rigor, só apareceu na segunda etapa. O primeiro tempo do time árabe foi bem fraco.
Ramon Diaz juntou Ighalo e Marega no centro do ataque, devolveu Michael à direita e Al Dawsari à esquerda. Mais móvel, Marega buscava se mover para o lado e permitir triangulações e, aos poucos, o Al Hilal foi mais presente no ataque. Não era criativo, mas ao menos fazia um jogo mais próximo daquele a que está habituado. Assim mesmo, o empate só veio no fim do tempo regulamentar, e graças a um pênalti um tanto casual. Fazendo com que seus quatro homens mais ofensivos atacassem a linha de defesa marroquina, o Al Hilal viu uma infiltração do lateral-direito Abdulhamid resultar no toque de mão de Attiyat-Allah. A triangulação, aliás, contou com bom passe de Marega. O malinês tem ótima capacidade de jogar de costas para o gol e merecerá muita atenção do Flamengo.
Um ponto favorável ao Al Hilal é a possibilidade de variar taticamente no setor ofensivo, graças a um elenco mais farto. Ramon Diaz lançou Vietto pouco antes de conseguir o gol de empate. Ora como terceiro atacante, ora como um homem por trás da dupla ofensiva, o argentino levou perigo. Sem Ighalo e com Al Shehri, o Al Hilal também melhorou no ataque. Não o bastante para fazer o segundo gol sobre um já cansado Wydad.
Se conseguir melhorar sua consistência defensiva nos poucos dias que restam até a semifinal, o Flamengo terá todas as condições de confirmar seu favoritismo.
Fonte: Globo Esporte