O advogado-geral da União, Jorge Messias, pediu ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) a prisão em flagrante do ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres e demais agentes públicos envolvidos que tenham se omitido ou agido para facilitar a invasão dos prédios dos Três Poderes. Mais tarde, o ministro da Justiça Flávio Dino informou que os invasores podem ter que enfrentar até 16 anos de prisão por crimes cometidos durante a invasão.
O ministro da Justiça classificou na noite de ontem os atos de vandalismo como uma tentativa "grave destruição do Estado Democrático de Direito". Dino disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro é o "responsável político" pelos atos terroristas.
O Fórum Nacional de Governadores ofereceu o envio de policiais para ajudar na recuperação da segurança na Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três Poderes. A entidade fez uma reunião de emergência. O encontro reuniu tanto governadores como secretários estaduais de Segurança Pública. Os representantes estaduais emitiram uma nota de repúdio aos atos antidemocráticos na área central de Brasília. Hoje, às 18h, os governadores se reúnem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para demonstrar unidade.
O ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha, afirmou que está negociando com os Estados e disse que já havia a confirmação dos gestores do Piauí, da Bahia, de Goiás e de Alagoas. "Esses governadores já colocaram à disposição os membros da Força Nacional de Segurança dos seus estados para se deslocarem a Brasília. O objetivo é apoiar as ações do governo federal na intervenção da segurança do DF", pontuou.
"Participei, há pouco, da reunião com todos os governadores e governadoras do Brasil. Na pauta, a união de esforços para apoiar o Governo Federal e reestabelecer a ordem em Brasília", declarou o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues.
Pedido de Desculpas
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, gravou um vídeo no qual pede desculpas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelos atos terroristas. Na gravação, ele também pede desculpas à presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, e aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco. Cabe ao governo do Distrito Federal garantir a segurança dos prédios públicos que foram invadidos.
"O que aconteceu foi simplesmente inaceitável. Vínhamos monitorando desde a tarde de ontem juntamente com o ministro [da Justiça] Flávio Dino todos esses movimentos que estavam chegando ao Distrito Federal. Conversamos de ontem pra hoje por várias vezes e não acreditávamos em momento nenhum que essas manifestações tomariam as proporções que tomaram", contou.
Na gravação, Ibaneis define os manifestantes que invadiram o Supremo Tribunal Federal (STF), o Congresso e o Planalto como "vândalos e terroristas".
"São verdadeiros vândalos. Verdadeiros terroristas que terão de mim todo o efetivo combate para que sejam punidos", afirmou.
As declarações de Ibaneis ocorrem após uma sequência de episódios em que o setor de segurança pública do governo do DF foi considerado leniente com manifestações antidemocráticas e de caráter golpista. Na data da diplomação de Lula, em dezembro, bolsonaristas já haviam provocado caos em Brasília com atos de vandalismo, que envolveram tentativas de invasão à sede da Polícia Federal.
A gravação de Ibaneis foi publicada pouco depois de Lula ter decretado intervenção federal no Distrito Federal e cobrar punições.
Exército de prontidão
O Exército colocou tropas em Brasília prontas para um possível decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Ao todo, 2.500 militares estão aquartelados em Brasília. Apesar do batalhão em prontidão, não há sinalização do governo federal para um possível acionamento dos militares.
Generais também discutem uma possível mudança de postura com os radicais que estão acampados desde novembro em frente ao QG do Exército.
Auxiliares do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmaram que a Força Nacional e a Polícia Militar do DF aumentaram seus efetivos para retirar os bolsonaristas radicais da Esplanada dos Ministérios.
Um acionamento do batalhão do Exército, portanto, pode ser reavaliado caso a segurança do DF e a Força Nacional não consigam conter os ataques.
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, se reuniu com o comandante do Exército, Júlio César de Arruda, para discutir a situação, na tarde de domingo. Múcio reconheceu que é hora de mudar a postura em relação às ocupações.
Governadores bolsonaristas repudiam atos golpistas na capital
Governadores que apoiaram Jair Bolsonaro na busca pela reeleição em outubro criticaram a invasão aos prédios sedes dos Três Poderes, em Brasília, ontem, por apoiadores bolsonaristas. Eleito em São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado e ex-ministro do ex-presidente, criticou os atos de terrorismo. "Manifestações perdem a legitimidade e a razão a partir do momento em que há violência, depredação ou cerceamento de direitos. Não admitiremos isso em SP", afirmou em uma postagem no Twitter.
No Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), reeleito pela mesma legenda de Bolsonaro, afirmou através do Twitter que as cenas vistas em Brasília "mancham a imagem do Brasil" e disse ser "contra toda e qualquer manifestação que não respeite os patrimônios público e privado".
"Atitudes como essas mancham a imagem do Brasil e não contribuem em nada para o nosso futuro. Manifestações pacíficas fazem parte da democracia, vandalismo não!", disse o governador.
Já o mandatário reeleito em Minas Gerais pelo partido Novo, Romeu Zema, disse ser "inaceitável o vandalismo ocorrido hoje em Brasília".
Fonte: avozdaregiao/ correio24hras.com.br