Duas em cada três mortes de bebês poderiam ser evitadas no Brasil, diz pesquisa

Observatório de Saúde na Infância defende importância da atenção básica à saúde, aleitamento materno e vacinação

Por A Voz da Região em 03/05/2022 às 11:22:35
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) infantil do Instituto Dante Pazzanese, em São Paulo. Governo do Estado de São Paulo

Unidade de Terapia Intensiva (UTI) infantil do Instituto Dante Pazzanese, em São Paulo. Governo do Estado de São Paulo

Um estudo aponta que duas em cada três mortes de bebês de até um ano, no Brasil, poderiam ser evitadas por meio do acesso à atenção básica de saúde, da amamentação e da vacinação.

Os dados são do Observatório de Saúde da Infância, que reúne pesquisadores da Fiocruz e do Centro Universitário Arthur de Sá Earp Neto (Unifase).

Segundo o levantamento, nos últimos três anos, o país registrou uma média de 22 mil mortes anuais de bebês de até um ano

Cristiano Boccolini, que atua no Laboratório de Informação em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), afirma que países desenvolvidos têm uma taxa de mortalidade nessa faixa etária de dois óbitos para mil nascimentos.

No entanto, o Brasil soma 11,87 por mil.

Para calcular as mortes evitáveis, por meio do cruzamento de bases de dados próprias e do governo federal, o Observatório de Saúde na Infância listou problemas que poderiam ser contidos pelo atendimento na rede básica de saúde, desde o pré-natal até diagnóstico e tratamento, como diarreia, doenças para quais já existem vacinas, pneumonia e infecções no nascimento..

"Cerca de 40% dos óbitos poderiam ser evitados com pré-natal adequado, desde a cobertura à melhor qualidade. Em torno de 15% poderiam ser evitadas com adequadas ações de atenção básica, como diagnóstico e tratamento de pneumonia e diarreia, provimento de alimentação adequada e vacinação", pontuou à CNN.

País tem dificuldade para atingir meta de vacinação contra o sarampo

Diante do cenário revelado pelo Observatório de Saúde na Infância, a queda da cobertura vacinal é uma preocupação, como destaca Patrícia Boccolini, pesquisadora vinculada ao Núcleo de Informação, Políticas Públicas e Inclusão (NIPPIS), cooperação entre a Fiocruz e a Unifase.

Nesta segunda-feira (2), começou a segunda etapa da campanha nacional contra a influenza e o sarampo, que tem as crianças entre seis meses a menores de cinco anos entre os grupos prioritários.

Patrícia Boccolini defende que os pais devem levar seus filhos aos postos. Segundo a pesquisadora, no último triênio, o sarampo matou 26 crianças de até cinco anos. Dados do Observatório ainda mostram que, em 2021, nenhum estado cumpriu a meta de 95% de cobertura vacinal contra a doença. Entre os mais de 5,5 mil municípios do país, apenas cerca de 12% atingiram a taxa.

Segundo informações do Ministério da Saúde, no ano passado, o Rio de Janeiro registrou a pior cobertura de primeira dose contra o sarampo: 56,74%. Em 2018, o índice era de 99,66%. No caso da segunda dose, a taxa caiu de 70,18% para 36,79% no período. Já em relação à segunda dose, Acre e Pará têm os piores resultados, com 25,62% e 26,7%, respectivamente.

A pesquisadora do Observatório avalia que uma série de fatores contribuem para a queda na imunização. "O aumento da desinformação em relação à própria vacina tem contribuído bastante para essa queda. E o sucesso do próprio Plano Nacional de Imunização pesa contra ele. As pessoas não veem mais ninguém com pólio, sarampo", colocou.

Em 2016, o Brasil chegou a receber a certificação de eliminação do sarampo, que voltou em 2018. Para Patrícia Boccolini, a campanha deste ano é fundamental para impedir o crescimento de casos, internações e mortes.


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