Os primeiros casos de varíola dos macacos (monkeypox) do atual surto foram detectadas por clínicas de saúde sexual europeias que, repentinamente, começaram a receber pacientes com sintomas semelhantes aos de infecções sexualmente transmissíveis (DST), como herpes e sífilis. Eram lesões de pele espalhadas pelo corpo, principalmente, nas regiões genitais e anais. Depois de ter declarado a doença emergência global de saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que homens que fazem sexo com homens diminuam o número de parceiros sexuais e reconsiderem relações com novos parceiros. Embora 98% dos casos de varíola dos macacos tenham sido registrados entre homens que fazem sexo com homens - o que inclui gays e bissexuais -, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, destacou que qualquer pessoa exposta ao vírus pode pegar a infecção. "Estigma e discriminação podem ser tão perigosos quanto qualquer vírus e podem alimentar o surto", disse Tedros. A monkeypox é transmitida pelo sexo?Um estudo publicado na revista científica The Lancet, na segunda-feira (8), mostrou evidências de que o contato próximo durante a relação sexual é atualmente a principal forma de transmissão do vírus. Ao analisar dados de 181 pacientes de três clínicas da Espanha, os pesquisadores observaram que a maioria teve relações sexuais com uma pessoa diagnosticada com a monkeypox ou com múltiplos parceiros três meses antes de adquirir a doença. Em todos os casos analisados, os pacientes desenvolveram erupções cutâneas pelo corpo, principalmente nas regiões do ânus, das genitálias e em volta da boca. Os que praticaram sexo anal, segundo os cientistas, tinham maior frequência de sintomas virais. O estudo não crava, entretanto, se o vírus é transmitido pelo sêmen. A comunidade científica repete que basta o contato próximo, pelo abraço, beijo ou até mesmo compartilhamento de lençóis e objetos pessoais, para que haja a transmissão do vírus. Também repetem que a camisinha não é uma forma de proteção adequada - visto que o contato pele a pele segue em relações sexuais com preservativo. Os casos vão ficar concentrados no grupo de homens que fazem sexo com homens?O virologista Luiz Nali, professor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro (Unisa), afirma que a dinâmica de transmissão da monkeypox deve mudar em breve. Isso porque os vírus não costumam eleger grupos populacionais. "Não existem fundamentos biológicos que expliquem porque o vírus está em um grupo populacional. Acredito que seja uma dinâmica inicial, no qual um grupo acaba se infectando primeiro e, posteriormente, o vírus se dissemina para o restante da população", avalia Nali. De acordo com a infectologista Ana Helena Germoglio, a ideia de que apenas homens gays e bissexuais estão sujeitos à infecção atrapalha o combate à doença. Ela lembra o que ocorreu na década de 1980, durante o início da epidemia HIV/AIDS. "A gente não pode tratar doenças estigmatizando classes mais vulneráveis. Momentaneamente, podemos falar que essa é uma doença que acomete mais homens que tiveram relação sexual com homens, mas não que é uma patologia exclusiva da da população LGBTQIA+", afirma a médica, ao lembrar que já há casos de mulheres e crianças infectadas com a monkeypox e os riscos de exposição dos profissionais de saúde. A abstinência sexual é uma forma de proteção segura e ajuda a conter a doença?A infectologista Ana Helena Germoglio esclarece que a redução de parceiros eventuais é uma estratégia importante, mas insuficiente para conter o surto. De acordo com ela, conta mais a responsabilidade individual de quem teve os sintomas procurar o diagnóstico, fazer o isolamento e avisar os contatos para que evitem outras pessoas. Além disso, a médica sugere que a imunização contra a monkeypox seja iniciada o quanto antes. "A estratégia correta é conscientização e imunização. A campanha deve começar pelos grupos prioritários: homens que fazem sexo com homens, profissionais de saúde que atendem aos pacientes e pessoas que tiveram contato, independentemente de ter sido relação sexual ou não", explica Ana Helena. Procurado pelo Metrópoles, o Ministério da Saúde informou que prepara uma campanha informativa sobre a monkeypox, mas não detalhou quais serão as ações e estratégias para informar a população.